segunda-feira, 30 de abril de 2007

JORNAL BEIJO DA RUA

A distribuição do jornal ''Beijo da rua'' é de responsabilidade das associações de prostitutas, que recebem lotes que variam entre 50 e 500 exemplares, dependendo de algumas variáveis, como o local onde atuam, a capacidade de distribuição e organização interna. O público leitor é composto, majoritariamente, por prostitutas, clientes, comerciantes e outras pessoas que estão no entorno da prostituição. Também recebem o material militantes de outros movimentos sociais, como o gay e o soropositivo, gestores das áreas de saúde, educação, cultura, direitos humanos, além de políticos, pesquisadores, estudantes e formadores de opinião em geral.

Como veículo de comunicação vinculado a um movimento social, uma função importante do Beijo da Rua é defender e promover os direitos das prostitutas. Flávio Lenz diz ser "importante dar visibilidade às dificuldades, como preconceito e discriminação e às conquistas do movimento, como a inclusão do termo 'profissionais do sexo' na Classificação Brasileira de Ocupações". A informação é útil tanto para as prostitutas, que são informadas sobre o que suas colegas fazem em outras cidades, estados e países, e também para os demais setores da sociedade.

Flávio Lenz conta que mesmo com as dificuldades em se conseguir anunciantes, em razão do preconceito, o movimento reuniu forças para lançar, em dezembro de 2004, a versão eletrônica do Beijo da Rua, no endereço, http://www.beijodarua.com.br, ampliando sensivelmente a repercussão do jornal e a visibilidade da luta das prostitutas.

Pesquisado por Fernanda Pontes

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Jornal O SOL

Luanara Damasceno

Setembro de 1967, nasce no Rio de Janeiro o jornal-escola O Sol, uma experiência, que apesar de efêmera, seria única no jornalismo brasileiro. Seu idealizador, o jornalista, poeta e artista plástico Reynaldo Jardim deu o pontapé inicial e lançou o desafio de juntar profissionais e estudantes das Ciência Humanas numa redação para colocar diariamente a cada manhã “O Sol nas bancas de revista...” e encher de alegria e preguiça a vida dos cariocas, como cantou Caetano Veloso.

A equipe de profissionais do novo jornal realizou concurso destinado a selecionar 30 estudantes dos cursos de História, Letras, Ciência Sociais e Comunicação, que naquele momento não poderiam imaginar que revolucionários de sua época para assumirem o posto de estagiário. Na lista de aprovados, Sérgio Norman Gramático, um estudante ousado e politizado que cursava o primeiro ano de jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e acreditava que, para vencer na vida, nenhuma oportunidade poderia ser desperdiçada.

O Sol “brilhou” num período em que o Brasil vivia o pós-golpe militar de 64, a tensão das passeatas estudantis, a efervescência dos festivais de música e o AI-5. E para relatar de maneira crítica e independente todos os fatos importantes deste período e agitar o caldeirão cultural carioca lá estavam os “meninos e meninas do Sol” como ratifica o professor Gramático: “O Sol surgiu num momento extremamente importante não só no contexto nacional como internacional. Os anos 67 e 68 foram anos extremamente efervescentes e nós fizemos parte de uma juventude que não teve paralelo anterior nem posterior; uma juventude singular...”

Gramático iniciou sua carreira na editoria de polícia que era comandada por Carlos Heitor Cony. Mas quem pensa que os episódios policiais e as notícias do dia-a-dia terminavam sua trajetória no exemplar vendido no dia seguinte, engana-se. Alguns deles viravam crônicas nas mãos do talentoso estagiário. Como a história de um homem que, após sofrer dores de cabeça, suores, calafrios e passar por inúmeros tratamentos, descobre após muitos anos que sofria do “mal do colarinho”, pois vestia camisa com o colarinho um número menor que o seu, é um exemplo do lado cronista do repórter. Hoje, o professor Gramático lembra com carinho da sua passagem pelo Sol e afirma que foi extremamente válido e muito importante para a formação do seu caráter profissional. Ele, que acompanhou O Sol desde o nascer ao pôr, diz que deveriam existir outros “Sóis” para que os jovens pudessem vivenciar esta experiência.

“Quando o Sol fechou suas portas, um grupo fundou o Pasquim, outros foram para as revistas da época como O Cruzeiro. Outros mais combativos acabaram pagando um preço alto, foram presos, torturados e exilados”.



O Sol nas telas de cinema (Assista ao trailer)

A voz de Caetano e, “caminhando contra o vento”, fotos, muitas fotos das belezas cariocas, artistas brasileiros e mazelas de uma época, tudo girando para terminar num mergulho sedutor dentro da bebida que faz parte da vida de praticamente todos os brasileiros, o café. Assim começa o documentário “O Sol, caminhando contra o vento”, da premiada diretora Tetê Moraes e da jornalista Martha Alencar, sobre o jornal-escola, O Sol . A obra é uma verdadeira aula de história e um retrato apaixonante da geração de 68. O filme entrelaça depoimentos de várias personalidades do País que fizeram parte do jornal, como Caetano Veloso, autor da música que se transformou em hino do Sol, Chico Buarque que na época era cartunista, Zuenir Ventura, Beth Faria, Gilberto Gil, Arnaldo Jabor, Daniel Azulay que era responsável pelas aventuras do Capitão Sol e Ana Arruda Callado, editora-chefe, que afirmou durante debate ocorrido no dia 28 de setembro, segundo dia de exibição do filme no Festival do Rio, que “O Sol foi a melhor coisa que fiz na vida”. E que todos que passaram pelo Sol queriam mudar o mundo e continuam querendo. Martha Alencar disse que “fazer o filme foi um reencontro com a paixão”, algo, segundo ela, “bastante esquecido”. Tetê Moraes disse que “não queria fazer um filme só sobre o Sol e sim contar a história de pessoas”.


Fonte: Jornal Laboratório* - http://www.facha.edu.br/publicacoes

*Jornal produzido por alunos de comunicação da FACHA - Faculdades Integradas Helio Alonso.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

TV TAGARELA - A VOZ DA ROCINHA

Helio Almeida


A TV Tagarela surgiu a partir de uma oficina de criação de vídeo oferecida aos jovens entre 14 e 18 anos da comunidade Rocinha pela Ação Social Padre Anchieta (ASPA), em 1997. A ASPA é uma instituição católica que atua na Rocinha desde 1963, promovendo cursos e projetos educacionais, culturais e sociais que possibilitam a inclusão dos moradores na sociedade. Após o término da oficina, os jovens se perguntaram: “E agora? O que vamos fazer com o conhecimento adquirido?” Até então, o objetivo da oficina era discutir questões ligadas à cidadania. Mas os jovens que participaram queriam algo mais e resolveram formar, em 1998, uma TV comunitária que viria a ser, hoje, a TV Tagarela. Inicialmente chamada de ASPA Vídeo, a TV era formada por um grupo de dez pessoas que começou a desenvolver projetos voltados para a cultura, educação e cidadania com os equipamentos financiados pela ASPA. Após as produções, esses vídeos eram transmitidos através de telões dentro da comunidade, caracterizando a TV Tagarela como TV móvel, de Rua.

Com o passar do tempo, cada vez mais independente da ASPA, o grupo resolveu trocar o nome da TV, já que o anterior não atraía muito as pessoas e não dava visibilidade ao trabalho. Durante uma pesquisa no “Varal de Lembranças” – bazar de coisas antigas realizadas na Rocinha – acharam um jornal comunitário da década de 80 que se chamava Jornal Tagarela. Os jovens gostaram do nome e a ASPA Vídeo passou a chamar-se TV Tagarela.

Em 2003, a TV Tagarela desvinculou-se de vez da ASPA. A separação trouxe algumas dificuldades, uma vez que não tinham recursos para as produções. A TV não contava com um espaço físico. Todo o material (microfone, acervo de fitas...) era espalhado pelas casas dos membros da TV. A TV comunitária mesmo assim continuou a produzir com a ajuda de outros grupos que emprestavam seus equipamentos para a realização do trabalho.

Ainda em 2003, a TV adquiriu uma câmera digital-8 através de um projeto enviado para a FASE – Federação de Órgãos para Assistência e Educação. Foi quando puderam se dedicar mais à produção do filme Entre Muros e Favelas, uma parceria entre as TVs ATREVER, de Manguinhos; Tagarela, da Rocinha, e a ONG Alemã AKRRAK. O filme, que retrata a violência policial nas favelas do Rio de Janeiro, ganhou em 2005, o prêmio Jangada de melhor documentário média metragem etnográfico.

Toda a trajetória da TV Tagarela é marcada por muita luta, resistência e também conquistas. No ano de 2004, eles enfim adquiriram um espaço físico para a sede e o funcionamento da TV. Na verdade, esse espaço é um andar de um prédio abandonado, que os membros da TV comunitária dividem com a Associação CACOC (Cultura, Arte e Comunicação Comunitária) da Rocinha, que desenvolve, entre outras coisas, o jornal comunitário Tá Dito. Neste mesmo ano, o grupo, para conseguir os equipamentos necessários para o funcionamento da TV, produziu dois vídeos comerciais: um para a Petrobras e outro para a Fiocruz. Com o dinheiro ganho, compraram materiais para a produção dos programas.


A TV Tagarela conta ainda com a ajuda da FACHA (Faculdades Hélio Alonso), através do NECC (Núcleo de Educação De Comunicação Comunitária), desde a sua fundação. A FACHA disponibiliza cursos técnicos e bolsas de estudo do Curso Superior de Comunicação Social para que eles melhorem, a cada dia, o trabalho desenvolvido na comunidade e, também, para que tenham mais oportunidade na sociedade .

Segundo os "tagarelas", a TV não quer institucionalizar-se, tampouco quer se transformar numa ONG. Quer continuar como um movimento e permanecer com os seus ideais intactos de mobilização e participação popular através da comunicação, com o objetivo de despertar o potencial dos moradores de uma determinada comunidade. Atualmente, a TV Tagarela produz vídeos, faz exibição de filmes, mantém um site próprio e promove eventos culturais na comunidade.

A TV Tagarela, como uma TV de Rua, exibe seus vídeos em praças da comunidade, na maioria das vezes no Largo do Boiadeiro, famoso comércio da Rocinha. É considerado um ponto estratégico, uma vez que a maioria dos moradores passa por ele ao entrar ou sair da comunidade. Essas exibições são sempre feitas à noite, para ser possível a visualização do material transmitido através do telão. São veiculados filmes nacionais que tenham, de preferência, alguma relação com a comunidade da Rocinha, proporcionando o exercício da consciência crítica. O grupo mantém ainda o site http://www.tvtagarela.org.br, voltado para a comunidade e a TV, onde são disponibilizadas todas as suas produções.

É esse o verdadeiro papel da comunicação comunitária: dar visibilidade aos moradores, ou seja, torná-los agentes do seu próprio “eu”. Ela traz cultura, conhecimento e discute possíveis soluções para os problemas locais, esquecidos pela mídia tradicional. No caso da TV Tagarela, a transmissão não é feita por ondas que se propagam pelo ar e nem a cabo; é uma forma de comunicação híbrida, que mistura a imagem eletrônica com a presença física, como ocorre no teatro ou na comunicação oral. Essa mistura de uma forma moderna – a TV – com outra tão antiga quanto o teatro, mostra bem o papel de resistência cultural desempenhado pela comunicação comunitária em busca de uma real democratização.



Assista ao vídeo sobre Lixo da Arte,Arte do Lixo produzido pela TV Tagarela, clicando na logomarca baixo.

Sinopse
Série produzida para o canal saúde (FIOCRUZ). O vídeo fala de artistas plásticos que utilizam o "lixo" para fazerem suas artes.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Mídia Alternativa está no Portal Imprensa

Faculdade do RJ utiliza blogs para trabalhos de avaliação, por Filipe Cerolim*


Alunos da FACHA (Faculdades Integradas Hélio Alonso), no Rio de Janeiro, estão produzindo blogs em seus trabalhos de avaliação. A novidade foi implantada pelo professor Paulo Cezar Guimarães, junto com os seus alunos das turmas de Técnica de Reportagem e Documentação Gráfica e Visual, na Unidade Botafogo; e de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na Unidade Méier.

São cinco blogs. Todos sobre assuntos voltados para a Comunicação. A turma de Documentação Gráfica e Visual do turno da noite da faculdade já está com três blogs no ar. Um sobre a história da Imprensa, "De Guttemberg a Blogosfera"; outro sobre Mídia Alternativa e o terceiro sobre o escritor Gabriel García Márquez, que esse ano completou 80 anos. A turma de Técnica de Reportagem produziu um blog sobre o livro que revolucionou e criou a geração "beats", "On The Road", de Jack Kerouak. A turma de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) está fazendo um sobre o extinto Grupo Manchete.

Por falar em professores, eles também têm seus blogs. Alguns até dois, como o próprio Paulo Cezar (um blog pessoal e outro voltado para seus alunos), e Sebastião Martins (um voltado para peças publicitárias e outro sobre seu hobbie, a poesia). Marcio Riscado também tem um em parceria com outros colegas, dedicado a fotos inusitada. Fora Cid Benjamin, pioneiro entre os professores.

Na FACHA não só turmas inteiras e professores estão criando seus blogs. Outros alunos entraram na onda e estão produzindo seus blogs pesssoais. O blog se tornou uma ferramenta muito útil para a comunicação.

Endereços dos blogs:








De Gutemberg a Blogosfera -www.blogpcalunos.blogspot.com

Gabriel Garcia Márquez - www.bomlergarciamarquez.blogspot.com



Matéria de Gaveta - www.materiadegaveta.blogspot.com


*Filipe é estudante de jornalismo do 5º período da FACHA (Faculdade Integrada Hélio Alonso), do RJ. Contato: filipecerolim@gmail.com


sexta-feira, 20 de abril de 2007

MOVIMENTO

Andrea Coelho

Em 25 de fevereiro de 1975, por decisão de Fernando Gasparian, Raimundo Pereira havia sido afastado da direção do Opinião. Em solidariedade, um grupo de jornalistas que fazia parte da equipe e era originário da revista Realidade, também pediu demissão e, junto com Raimundo, resolveram fundar o Movimento. Segundo o jornalista, sua saída do Opinião teria sido motivada por divergências políticas quanto ao apoio ao governo Geisel e ao projeto de abertura política, Na edição especial de lançamento do novo semanário, ele diz:

(...) Havia dois textos básicos de explicação dos acontecimentos, mas que não saciavam a curiosidade dos interessados: o de Fernando Gasparian, publicado em Opinião, uma nota curta falando da saída da equipe, e o da redação redigido pela equipe e lido na Associação Brasileira de Imprensa, no Rio. Como a redação explicava a saída em termos pólíticos e o Fernando em termos pessoais, mais especialmente das minhas características pessoais, havia rumores desses dois tipos. (...)

Foi nomeada uma comissão de 16 pessoas, com representantes de todas as tendências existentes na equipe. Inicialmente, decidiram seguir os princípios norteadores do Opinião, com poderes para decidir quem seria o editor-geral e opinar nas relações internas da redação.

O controle acionário do jornal foi distribuído entre cerca de 200 pessoas. A criação da Edição S.A. possibilitou a existência do jornal, distribuindo cotas para atingir o capital necessário ao empreendimento. A opção foi por um periódico mais popular, que atingisse também a classe trabalhadora. Aliás, um dos pontos inseridos no programa político-editorial do Movimento foi a luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Em seu número 25, por exemplo, numa edição especial sobre a condição feminina, a temática central era a da “Mulher no trabalho”.

A questão da democracia manifestava-se na luta pelo retorno do país ao pleno estado de direito com a anistia ampla, geral e irrestrita e a formação de uma Assembléia Nacional Constituinte livre e soberanamente eleita. A frase Por um jornal democrático e popular, independente e pluralista foi uma constante em todas as edições, reafirmando à exaustão os princípios do semanário.

Desde seu lançamento até o dia 5 de junho de 1978, quando a censura foi oficialmente suspensa, Movimento teve 3.093 artigos e 3.162 ilustrações cortados. Quando finalmente ficou livre, pôde falar de assuntos antes proibidos como a tortura. No número 155, de 19 de junho de 1978, aparecia na capa com destaque: “Primeira edição totalmente planejada e executada sem censura”.

Em substituição às matérias vetadas pela censura, M
costumava publicar lembretes de autopropaganda ou
de ênfase programática, tais como: retângulos com
fundo branco ou negro, com a inscrição “Leia Movi-
mento
” ou “Leia e assine Movimento”, ou ainda “Os Jor-
nais Independentes Dependem do Leitor – Leia, assi-
ne e divulgue Movimento”, ou também “Leia, assine e
divulgue Movimento, um jornal democrático”.(...)*

O fechamento do Movimento, em 23 de novembro de 1981, foi precedido por uma reunião sobre a crise financeira que vinha rondando o jornal. As causas, entretanto, não se deveram apenas aos aspectos econômicos ou mesmo ao fim da censura.

(...) Prendem-se a dois fatores. De um lado, relaci-
onam-se ao próprio momento histórico vivenciado, ao
lado dos objetivos do grupo representado no poder
do Estado. De outro, à situação interna do periódico
(concebido como um órgão de “frente progressis-
ta”) com as decorrentes dificuldades de manutenção
de correntes divergentes face a um projeto político
cada vez mais definido.*


Na verdade, o fim da censura prévia não representou o fim das pressões sobre Movimento. Outros meios foram utilizados, como a abertura de um inquérito contra o diretor-responsável do semanário, Antonio Carlos Ferreira, por uma série de reportagens sobre a corrupção governamental, que só foi revogado após o processo de anistia, em 1979. Outro fator foi a série de bombas nas bancas de jornais, em 1980, que atingiu os jornais alternativos, pois os locais escolhidos para as explosões eram as bancas que os vendiam. Em seu número final, Movimento assim se posicionou sobre a questão:

Em meados de 80, os jornais oposicionistas são
duramente golpeados pelos setores fascistas
aberturistas, atingindo de maneira mais profunda
jornais que, como Movimento, dependem essencial-
mente da venda em bancas. Os números são claros
para Movimento, que antes dos atentados vendia mais
de nove mil jornais e passa a vender menos de qua-
tro mil no período posterior. Foi o começo de uma
crise definitiva.

O próprio desdobramento do processo de abertura trouxe à tona projetos antes abrigados sob uma mesma “frente”. Movimento passou a sofrer, em sua própria redação, as divergências advindas das diferentes concepções quanto ao encaminhamento do processo político brasileiro. Esses “rachas” acabaram resultando na saída de muitos jornalistas que viriam a criar, mais tarde, o Amanhã e o Em Tempo.



*AQUINO, Maria Aparecida de. Censura, Imprensa, Estado autoritário (1969-1978): O exercício cotidiano da dominação e da resistência: O Estado de S. Paulo e Movimento. Série Memória 57



Fonte: Imprensa alternativa: apogeu, queda e novos caminhos.
— Rio de Janeiro : Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social, 2005. 80 p.: — (Cadernos da Comunicação. Série Memória; v.13

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Entrevista: Jaguar

Texto e fotos: Renata Moreira Lima

Simpático, irreverente e "boêmio de carteirinha", o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, se consagrou com o traço tosco, mas de mote inteligente. Esse ano um dos homens fortes do Pasquim tem a incumbência de separar o material de mais de 20 anos que esteve no jornal para uma coletânea que será lançada em março. Ele gosta de dividir o tempo entre chopes, amigos e trabalho e garante que é o melhor cartunista do Brasil! Em entrevista ao jornal JÁ, Jaguar conta um pouco mais sobre suas manias e a vida boêmia que não se cansa de levar.



Jornal JÁ: Você tem 51 anos de carreira. Como avalia o seu desempenho hoje?
Jaguar: Estou melhor. O que vale no desenho não é o traço, eu sempre desenhei mal. Quando levei meus desenhos para o Hélio Fernandes (Tribuna da Imprensa) ele falou que eram horríveis, para eu desistir que não tinha o menor jeito! E ele tinha razão. O Angeli, que desenha bem pra burro, e admiro muito, diz: é fácil imitar o Jaguar, basta não saber desenhar! (risos) A idéia é que vale para o humor do desenho prevalecer.
O Nani, por exemplo, é ótimo! Ele chegava no Pasquim com 10 desenhos bons por dia. Eu até brincava, dizia para ele ir à praia, namorar... (risos)

Jornal JÁ: Em artigo publicado no jornal O DIA você atentou para o fim da profissão de cartunista. A profissão está, realmente, em extinção? Qual a solução para salvá-la?
Jaguar: Não tem solução. Por exemplo, eu sobrevivo fazendo charge. Uso a técnica de cartunista para fazer a charge. São duas coisas bem diferentes: se eu faço uma charge, hoje, sobre o Palocci, ela é baseada nos acontecimentos políticos atuais. Daqui a três anos ninguém sabe quem é Palocci. A charge acaba perdendo o sentido. Já o cartum, você faz e daqui a 20 anos pode ser entendido. Um exemplo de cartum: David Neves desenhou o Aleijadinho com um amigo, Ouro Preto ao fundo, e ele dizendo: hoje me chamam de aleijadinho, mas a posteridade me fará justiça! (risos) Até hoje quem sabe o nome dele? (risos). Isso é cartum!

Jornal JÁ: No mesmo artigo do jornal você cita Don Rossé Cavaca e o fato dele ser pouco lembrado nos dias de hoje. O Brasil é um país sem memória? Você teme que algum dia o seu trabalho caia em esquecimento?
Jaguar: O Cavaca era absolutamente genial! Ótimo humorista! Ele vendia o livro dele de bar em bar. (risos) O Antônio Maria fazia uma espécie de horóscopo e colocava: hoje você vai estar num bar e Don Rossé Cavaca vai chegar e vender o livro. (risos) Enquanto eu estiver vivo, Cavaca não vai cair em esquecimento. Inclusive a minha próxima matéria na revista Argumento vai ser sobre ele.
Eu não temo pela perda dos meus trabalhos porque eu quero que se dane! Eu já fiz, aproximadamente 30 mil desenhos em 51 anos, sou o único cartunista que nunca parou, nunca teve férias. Dos meus desenhos, se eu tiver 200 deles é muito! Quando não tinha esse negócio de internet, eu mandava os originais. O Henfil tinha uma copiadora em casa, nunca mandava os originais. Volta e meia eu chego na casa de alguém e tem um quadrinho com o meu desenho! (risos). Então, pouco me importa, não ligo para isso enquanto estou vivo, quanto mais depois de morrer!


Jornal JÁ: Além dos trabalhos no DIA e na Revista Argumento, o que planeja para 2006?
Jaguar: Estou preparando o melhor do Pasquim, que vai sair em março, com os 150 primeiros números. Serão quatro volumes ao todo. Fiquei espantado, tem muita coisa! São vinte e tantos anos que fiquei no jornal...
Nessa pesquisa eu vi a qualidade dos textos do Vinícius. Ele traça uns perfis de alguns amigos dele: Antônio Maria, Di Cavalcante... Absolutamente brilhante o texto dele, fantástico!


Jornal JÁ: Você conheceu o Vinícius de Moraes?
Jaguar: Não tive grande intimidade, ele era de uma turma acima da minha, tinha uns sete anos a mais. Ele era amigo do Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Millôr. Eu era aspirante.
Nos encontrávamos no 706 que era um bar onde hoje é o Júlio Bogoricin - pra você ver como o Rio está diferente! Jorge Ben, Gato Barbiere, Menescal davam canja, todos os craques tocavam lá. Eu sempre ia à noite quando estava casado com uma "negona" de 1.80m e Vinícius estava sempre na entrada. Tanto não tínhamos intimidade, que ele não me chamava de Jaguarzinho, nem eu o chamava de Poetinha, era Vinícius e Jaguar. Mas tive uma passagem com ele. Estava com o Millôr em Salvador num festival e fomos à casa do Vinícius que estava morando em Itapuã. Ele nos ofereceu um uísque. Estávamos bebendo e conversando quando chegou a mulher dele e expulsou a gente, dizendo que só estávamos ali para sujar o verniz da mesa dela! (risos) Saímos e ficamos bebendo na praia. (risos)



Jornal JÁ: O Pasquim tem tudo a ver com a sua carreira, foram cerca de 20 anos no jornal. A política é um ponto presente nos seus desenhos, principalmente nas charges. Como você vê o momento político que o Brasil atravessa? Se arriscaria a fazer uma análise?
Jaguar: Estou muito decepcionado. Eu sempre fui contra o governo, mas esperava que dessa vez fosse a favor, votei quatro vezes no Lula e deu nisso! Felizmente, fiz a minha parte e estou fora. Nas próximas eleições eu não voto mais, vou usar o meu direito de não votar e vou ficar tomando minha cervejinha lá em Itaipava... (risos) Acho que isso não tem mais jeito! Se o cara que a gente tinha a maior esperança de consertar esta porcaria de país, desandou... Não vejo a menor perspectiva. Agora vocês, que são jovens, estão com problemas, porque eu, qualquer dia desses, tenho um piripaco aí e pronto, fico livre desse negócio! (risos) Mas fico com pena de vocês viverem num país que não vejo como vai sair dessa encrenca. Mas isso é uma depressão política, acho a vida ótima! Eu sou capaz de curtir até Brasília, onde estou morando... (risos)


Jornal JÁ: Você morava aqui no Leblon, não é?
Jaguar: Pois é. Minha mulher foi convidada para um cargo no Ministério da Saúde. Ela não tinha aceitado porque achou que eu não ia... Disse: você, super carioca, não vai sair do Rio nem amarrado! Respondi: saio até desamarrado mesmo! Lógico que eu fiz isso porque gosto muito dela. Cheguei lá achando que ia achar horrível e vi que não. Tem grandes bares e restaurantes, as pessoas são muito amáveis. Eu só conhecia o "centrão", antigamente eu ia e voltava no mesmo dia. Brasília é uma cidade com muita vegetação, muita água, o lago Paranoá... Tem uma cidade muito bonita perto que se chama Pirenópolis, que é uma espécie de Paraty, sem praia, claro! (risos)


Jornal JÁ: Mas, com isso, você deixou o Leblon?
Jaguar: Não deixei, porque eu tenho um contrato com o jornal O DIA, então venho, pelo menos, uma vez por mês. Agora, por exemplo estou há 10 dias no Rio e vou ficar mais três.


Jornal JÁ: Então você está ficando aqui de temporada...
Jaguar: É. Eu tenho três casas: esse apartamento aqui, o apart-hotel que estou em Brasília e uma casa em Itaipava. O problema é que, às vezes eu tomo um porre na véspera e não sei em que casa eu estou. De noite, por exemplo, quero ir ao banheiro e penso que estou em Itaipava quando estou no Rio ou em Brasília! Eu acho que o banheiro é por ali e bato com o nariz na parede! (risos)


Jornal JÁ: Você sente falta do Rio?
Jaguar: Uma das vantagens de morar fora do Rio é voltar para o Leblon e ter a constatação de que é o melhor lugar do mundo para se morar, não tem nada parecido! E olha que já fui a muitos lugares: Barcelona, Porto, Roma, Paris, nada! Só tem um problema: é difícil sair daqui. Em Brasília eu vejo muito mais shows. Pego o carro e em dez minutos eu estou no local do show. Aqui eu perco grandes espetáculos naquele Claro Hall, na Barra, na Lapa que tem uns maravilhosos! Sempre estou aqui no Leblon. Há um tempo atrás eu não tinha horário, então pegava o carro às 3h da manhã e ia para a Lapa, ficava "biritando"... Agora penso: bom, posso ser assaltado na saída, no sinal, na chegada, na volta... Acabo desistindo. Hoje, por causa do risco de sair à noite, os boêmios, os caras que eram de virar noite como eu, Otávio Augusto, Antônio Pedro, Carvana, estão bebendo à tarde, quando dá 8h da noite está todo mundo de porre e acaba dormindo cedo.


Jornal JÁ: Morando em Brasília, você tem saudade de acordar com as galinhas do Leblon?
Jaguar: Engraçado que a minha casa em Itaipava é no meio do mato e ouço muitos passarinhos, mas galinha e galo, só no Leblon! (risos) Essa história foi engraçada porque, quando eu ouvi pela primeira vez, perguntei ao jornaleiro de onde vinha o som. Ele disse que era da 14ª DP e escrevi uma crônica sobre o assunto. No dia seguinte, dois policiais armados bateram na minha porta, se identificando como sendo da 14ª. Eu elogiei a eficiência deles, como eles sabiam onde era a minha casa? Perguntei se tinha cometido algum crime. E eles: porque o senhor escreveu na sua crônica que mora em frente! (risos). Viemos esclarecer o assunto das galinhas: elas não são nossas, mas da Delegacia Anti-Sequestro que é ao lado. (risos)


Jornal JÁ: Você é um dos fundadores da banda de Ipanema e está declarando o seu amor ao Leblon. Mas você morava em Ipanema antes, não é?
Jaguar: Quando eu fundei a banda de Ipanema com o Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, aquele bando de malucos, eu morava em Copacabana. Quando a minha mãe faleceu herdei o apartamento dela na Praça General Osório onde morei bastante tempo. Mas Ipanema deteriorou daquela época... Agora a Praça melhorou, com o Belmonte, o Terceto, está mais agradável do que a um tempinho atrás. Acho que o Leblon é, hoje, o que Ipanema era há alguns anos. É o melhor lugar do mundo!


Jornal JÁ: E a Banda de Ipanema?
Jaguar: Estou completamente fora da Banda. Acho que, quando o Albino morreu, a Banda tinha que ter acabado. Foi desvirtuada, virou banda gay e de patrocínios. Houve um ano que foi bancada por um guaraná. Agora você imagina um monte de "biriteiros' com camiseta de guaraná! Antes era divertido, familiar!
Aquela área virou ponto gay de um tempo pra cá. Eu morava na General Osório e, durante anos, costumava almoçar no Bofetada. Até que eu li na coluna do Zózimo Barroso do Amaral que tinha virado ponto gay. Eu não sabia! Perguntei ao garçom. Ele disse: não doutor, é o seguinte, até às 16h está limpo! (risos)

Jornal JÁ: E quais são os melhores lugares para a boemia hoje?
Jaguar: Como eu não gosto de pegar carro, saio aqui por perto. Desço de casa e tem logo ali o Senegal, depois eu vou até o Pala D'ouro, de lá eu vou para o bar Redentor na Paul Redfern ao lado do La Botella, onde posso comer um sanduíche caprichado! Depois eu volto para Leblon e vou para Clipper, (risos) depois para o Bracarense (risos). E aí acabou o dia! Mas não é sempre, eu tenho que fazer as minhas coisas, minhas charges e cartuns.
Outro dia, estava com Antônio Pedro no Clipper quando tivemos a idéia de ver o filme do Vinícius (de Moraes). Assistimos metade, agora tenho que ver o começo do filme. Que é excelente! (risos)


Jornal JÁ: Para que a profissão de cartunista não acabe, que dica você daria aos aspirantes a Jaguar?
Jaguar: Eu sempre desaconselhei. Até porque fizeram isso comigo. Se o cara nasceu para isso, não vai desistir só porque o babaca do Jaguar falou que ele não deve tentar! Quando levei meus desenhos para o Hélio Fernandes ele falou para eu desistir! Eu comecei imitando um desenhista francês de terceira categoria.(risos)
O melhor cartunista que eu conheci, brasileiro, felizmente parou: chama-se Reinaldo, que resolveu parar de desenhar e se dedicar ao Casseta e Planeta. Ele é um gênio! Como ele parou, me considero o melhor! Até que provem o contrário! (risos)
Um caso impressionante foi um menino de 16 anos, que chegou no Pasquim perguntando o que eu achava do desenho dele. Eu ri e disse que um guri de 16 anos não podia fazer um desenho daquele. Ele respondeu: é meu mesmo! Amanhã eu trago outros! O cara nasceu pronto! Agora ele está no jornal Extra: Leonardo. Ele é fantástico!
Eu acho legal que os jovens cartunistas me respeitam. Talvez porque eu não seja rico ou porque eu seja porra-louca, talvez porque eu seja muito bêbado! (risos)

















Enviado por Marcio Bittencourt

quarta-feira, 18 de abril de 2007

O MAIS ANTIGO DOS ALTERNATIVOS

Helio Almeida


Semanário das ligas anticlericais do Estado de São Paulo, o jornal A Lanterna surgiu em 1901, com uma tiragem de mil exemplares, era distribuído inicialmente de forma gratuita e caracterizou-se por suas caricaturas anticlericais. Em seu primeiro editorial, questionava: “somos apenas um punhado de homens. Somos 10? Somos 20? Que importa? Seremos legião amanhã, quando todos os que sabem o quanto o batismo embrutece os povos, decidirem engrossar as nossas fileiras”.

Após setenta edições, A Lanterna interrompe sua publicação em 1904, mas reinicia em 1909, lançando mais 293 exemplares até 1916. O diretor Edigar Laurenroth consegue lançar em 1933 mais 45 números de A Lanterna.

O romancista Lima Barreto foi colaborador do jornal assinando seus artigos com o pseudônimo de “Dr. Bogoloff” e depois sob seu próprio nome. Fascinado pela revolução de outubro na Rússia, Barreto também escrevia para outros jornais: O Cosmopolita, O Parafuso, A Luta, O Debate.

Com uma linguagem acessível, A Lanterna retratava de forma humorística a ação da igreja católica no Brasil. Próxima do Estado, a igreja era vista como atraso, pois era entendida como vendedora de seus serviços e que abusava da mentalidade dos trabalhadores e das mulheres. Era a visão de uma igreja cada vez mais romanizada e indiferente a realidade brasileira e sendo percebida como instituição política. O jornal reclamava da falta de pensamento nos anos 30 e a influência da igreja no ensino oficial.

Havia textos de Vitor Hugo, Bakunim, às vezes muito polêmicos, com críticas ácidas à igreja, ao demonstrarem as atividades da liga anticlerical, reprimidas pelas autoridades do Departamento Estadual de Ordem Política e Social – DEOPS. Seus colaboradores apresentavam-se com nomes zombeteiros, como “Frei Bisbilhoteiro”.

Além das crônicas, A Lanterna também havia notícias como aquela ocorrida em 1935, no estado do Paraná, onde padres andavam armados por cidades do interior e eram suspeitos de atearem fogo em um templo protestante. O jornal alertava para o fato de a igreja católica usar meios ilícitos para garantir seu predomínio no campo da fé dos brasileiros. O Vaticano era caracterizado como central de arrecadações; uma organização imperialista que canalizava a economia das famílias e as empobrecia, deixando-as em estado de miséria.

O jornal foi extinto, acusado de subversão pelo DEOPS. O anarquista Benedito Romano foi preso quando estava prestes a pegar um conjunto de material impresso, vindo do exterior.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Jornal Binômio, o incendiário de Minas faz 50 anos

José Maria Rabelo
Em 17 de fevereiro de 1952, na então pacata Belo Horizonte, surgia um jornal tablóide que iria balançar as estruturas conservadoras e a moral da tradicional família mineira. Era o Binômio, dirigido pelo jornalista José Maria Rabelo e seu colega Euro Arantes. A linha editorial do semanário combinava o humor com denúncias políticas, grandes reportagens, charges, crônicas e farto material fotográfico. Tudo começou quando eles decidiram escolher o então governador do estado Juscelino Kubitschek como alvo. JK tinha adotado como lema de governo a frase "Binômio Energia e Transporte", que era exaustivamente divulgada nos meios de comunicação. Para contrapor o slogan eles então lançaram o jornal intitulado "Binômio Sombra e Água Fresca", que com o tempo ficaria apenas Binômio. O objetivo era mostrar o lado promíscuo das relações de poder no estado. No primeiro número estava claro ao que vinha. No editorial "Duzentas e sessenta e nove palavras ao leitor", ele se intitulava quase independente. "Temos 99% de independência e um por cento de ligações suspeitas. O oposto de nossos ilustres confrades, que têm um por cento de independência e noventa e nove por cento de ligações mais suspeitas que o mordomo de filme policial americano".

O jornal virou fenômeno de venda (chegou a vender 60 mil exemplares) e incorporava jovens jornalistas e chargistas, entre eles Fernando Gabeira, Roberto Drummond, Guy de Almeida, Oseas de Carvalho, Ponce de Leon, Ziraldo e Borjalo, todos em início de carreira. Célebre foi a manchete anunciando uma visita de JK a Araxá. Como tinha ido acompanhado do empresário Joaquim Rolla, Binômio estampou a seguinte pérola: "Juscelino foi a Araxá e levou Rolla".

Em pouco tempo o jornal já era motivo de preocupação para diversos interesses, governamentais e privados, entre eles o banqueiro Antonio Luciano, dono de metade de Belo Horizonte, que o jornal massacrou ao longo de sua existência. O "respeitado" tubarão era deflorador de meninas e montara um aparato para saciar seu apetite sexual. Para isso tinha um ajudante encarregado de recrutar pela periferia da cidade donzelas incautas dispostas a atender seu desejo, em troca de dinheiro e outros favores. O que era apenas fama ganhava as páginas do Binômio, que não perdoava. Luciano chegou a mandar capangas atrás da equipe do jornal. Há dados comprovados que apontam que ele chegou a ter mais de cem filhos, alguns até com filhas.

Outro setor que tomou horror ao Binômio foi o militar. Principalmente a partir dos incidentes com o general Punaro Bley, então comandante do exército em Minas. O referido oficial não gostou de uma reportagem publicada no jornal que revelava um lado obscuro de sua história, quando interventor no Espírito Santo durante o Estado Novo. Ele tinha construído campos de concentração para recolher líderes comunistas e governou o estado com braço de ferro. A matéria intitulada "Democrata hoje, fascista ontem", irritou o general que fardado foi até a redação de Binômio para agredir José Maria. Ao se defender, desferiu alguns socos que deixaram Bley sangrando. Como resposta, num gesto de grande valentia, o militar enviou mais de duzentos soldados empastelar a redação do jornal, não poupando sequer as instalações sanitárias e os quadros de artistas mineiros que decoravam o ambiente. A partir dali, até 1964, seria apenas uma questão de tempo. Com o golpe, Binômio, depois de 12 anos de uma rica e fascinante experiência, foi fechado e seu diretor obrigado a correr o mundo num exílio que durou 16 anos.

Fonte: Bafafá online, pesquisado por Fernanda Pontes


Mais informações: Revista Caros Amigos

segunda-feira, 16 de abril de 2007

JORNAL OPINIÃO

Lançado em São Paulo em 1972, o Opinião foi considerado um dos mais influentes jornais alternativos durante o regime militar. Em todo o seu período de circulação, fez um jornalismo investigativo e nacionalista, sempre em defesa da democracia brasileira. Por causa dessa postura, foi também um dos veículos mais perseguidos pelos censores da ditadura, que deram plantão na sua redação de janeiro de 1973 a abril de 1977. Parou de circular em 1978.

Fonte: Associação Brasileira de Imprensa - http://www.abi.org.br/paginaindividual.asp?id=554

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Bafafá On Line tem 4 anos de sucesso


O portal Bafafá On Line, do Jornal Bafafá 100% Opinião, foi criado, em dezembro de 2002, abriu as portas para o Brasil e o Mundo possibilitando contato diário com os leitores. O portal tem hoje 20 mil visitas/mês e um cadastro de quase dois mil endereços eletrônicos. O espaço tem acessos de vários países, entre eles, EUA, França, Inglaterra, Portugal, Alemanha, Japão, México, Argentina, Peru, Austrália e até Arábia Saudita e Eslovênia. O sítio é também um rico banco de dados para pesquisas, pois disponibiliza as 63 edições do jornal e temas que nem sempre têm espaço na versão impressa.

Nestes quatro anos de existência, Bafafá On Line endossou campanhas importantes, como, por exemplo, a do movimento mundial em favor de Amina, a nigeriana condenada à pena de apedrejamento em seu país, sentença que acabou sendo revogada. O apoio à iniciativa S.O.S. Sri Lanka, de solidariedade à população atingida pela tragédia dos tsunamis. Em colaboração com o consulado cingalês, Bafafá On Line conseguiu transporte para enviar àquele país asiático 100 toneladas de medicamentos doadas por diversos laboratórios.

Vários assuntos são abordados nas páginas do portal por uma extraordinária equipe de colaboradores, que inclui, entre outros, Eduardo Galeano, Leandro Konder, Carlos Lessa, Affonso Romano de Sant'Anna, Fritz Utzeri, Alcione Araújo, Nelson Rodrigues Filho, Mário Augusto Jakobskind, Theotônio dos Santos, Eric Nepomuceno, Helena Jobim, Rogério Coelho Neto, Martinho da Vila, Leonardo Boff, José Maria Rabêlo, Emir Sader, Jaguar, Nilson, Guz, Alexandre Palma, Diego de Assis, Rafael Monteiro, Tarcísio Lage e Rui Martins, estes últimos correspondentes, respectivamente, em Amsterdã e Genebra.


quinta-feira, 12 de abril de 2007

Reminiscência


Ziraldo*

Nasci numa pequena cidade de Minas. Até aí nada demais. Muita gente nasce em cidades pequenas, distantes e quietas. Seria feliz, de qualquer maneira, se quem lê neste instante pudesse saber a alegria que existe em se nascer num lugar assim, em que as ruas pequenas e estreitas, as altas palmeiras, a água macia da chuva que cai sempre, as muitas estrelas e a lua, as pedrinhas das calçadas, a meninada, a carteira da sala de aula, a mestra e mais uma quantidade destas lembranças simples sejam, mais tarde, influências reais na vida da gente. Na vida de quem, afinal, preferiu enfrentar a cidade grande: as águas desse mar, a luz dessas lâmpadas frias, a sala fechada, triste e sem perspectivas em que se ganha a vida, a cadeira quente e insegura das tardes de ir e vir — pura fadiga —das empresas, a luta, a dura luta de ser alguém, um peixe grande em mar estranhamente grande. A verdade é que, um dia, a pensar e refletir na grama macia da pracinha da matriz, a criança decidiu sair.

E a estrada se abriu a sua frente. Vir era uma idéia. Fixa. Caminhar era fácil.

A chegada: a rua imensa, as buzinas, as luzes, sinal verde, aquela cidade grande, grande ali, na sua frente. Cada face, cada ser que passava — pra lá e pra cá — inquietamente, tanta gente, suada, apressada, sem alegria, sem alma, a alma cerrada, enrustida, cada triste surpresa era a chegada.

Cheguei. Um táxi. A mala. As esquinas. Está bem, mas, que fazer? Sentei e pensei. Pela janela da casa alta vai a vida. Seria a vida? E disse a primeira frase na cidade grande, as primeiras palavras diante da grande luta e as palavras eram: Meu Deus, que saudade! E nem um dia me separava da pracinha da matriz. Cada dia que, a seguir, vi passar, esqueci.

Diante da máquina, neste instante, há uma distância imensa entre aquele dia na missa cantada na minha igrejinha e este dia em que, diante de mim, diante de minha mulher e da minha casa feita de cidade grande, minhas filhas brincam de ser gente grande.

E elas. Que vai ser delas? Sem palmeiras, sem um pai de ar grave; sem entender a chuva a cair em jardins humildes, nas margaridas branquinhas; sem entender de lua e de estrelas — que céu aqui, pra se ver nem se vê —, sem brincar na lama das ruas, a lama das chuvas, casca de palmeira, descer as barracas, nadar sem mamãe saber, nas águas escuras, fim de quintal, quintal, quintal? sem quintal? pedrinha de calçada, marcar a canivete sua inicial na carteira da sala. Ainda bem que nasceram meninas.

Já é diferente. Será que é? Sei lá. Entre a chegada e este instante, lembrança nenhuma. Sei que cheguei.

E sei mais: que esta página está é uma grande besteira, dura de cintura, sem graça, uma m... Já se vê que quem nasceu para caratinguense nunca chega a Rubem Braga. E também tem mais: Quem é capaz de escrever uma página literária decente — igual a essa (?) — sem usar uma vez sequer a letra O? Leiam mais uma vez. Atentamente. Se tiver um — além deste aí em cima — eu como!


*Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga (MG), em 1932. É um homem de múltiplas atividades: advogado, jornalista, desenhista de humor, escritor infantil, autor teatral e de cinema, empresário, confirmando o que disse em uma entrevista há muito tempo: "Eu quero é abraçar o mundo com as pernas". Um dos fundadores do jornal "O Pasquim", que fez grande sucesso nos anos da repressão, lançou a revista "BUNDAS", em 1999, que só durou alguns meses. Em 19-02-2002, sob sua liderança, "O Pasquim" voltou às bancas, numa tentativa de fazer renascer o velho sucesso. Criador de Flicts, Jeremias, o Bom, O Menino Maluquinho, O Mineirinho Come-Quieto e tantos outros mais, que fazem parte de nosso cotidiano, aqui o autor é apresentado de forma intimista e emocionada, contando, sempre com muito humor, sua saída de Minas. O autor foi agraciado com o Prêmio Academia Brasileira de Letras, em 2003, na categoria "literatura infantil". Texto extraído do livro "Crônicas Mineiras", Editora Ática — São Paulo, 1984, pág. 109.

Texto enviado pelo nosso colega Márcio Bittencourt Bernardo, escolhido por ser diferente do que já foi postado e interessante por mostrar um lado do Ziraldo que pouca gente conhece.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

AS RESPONSABILIDADES DA MÍDIA ALTERNATIVA

Leonardo Guedes*



"Descendo a rua da ladeira, só quem viu que pode contar / Cheirando a flor de laranjeira Sá Marina vem pra cantar...". Bem antes de virar arrasta-povo-de-trio-elétrico-no-Carnaval-baiano na voz de Ivete Sangalo, esta música chamada "Sá Marina" era mais um sucesso radiofônico de um dos cantores mais famosos do país na década de 1960. Seu nome: Wilson Simonal. Negro e dono de um estilo divertido e suingado de interpretar sambas-canção (a chamada "pilantragem"), ganhou muito dinheiro e era apreciado pela mídia da época. Em 1970, após descobrir que um contador estava desviando os lucros financeiros de sua carreira, Simonal chamou dois amigos policiais para prender o golpista. Deu confusão e a situação do cantor ficou complicada quando descobriram que os policiais amigos eram agentes do DOPS, polícia política da ditadura militar que vigorava na época. Não demorou muito, uma matéria do principal veículo de oposição aos militares, O Pasquim, publicou uma matéria dando força ao boato de que Wilson Simonal era um delator de esquerdistas infiltrado no meio artítistico, representado por um imenso dedo negro apontado.

A partir de então, Simonal caiu em desgraça. Suas músicas desapareceram das rádios, sua presença passou a ser indesejada na mídia. Tinha um estilo jazzistíco e inocente demais para gravar músicas de crítica política e reestabelecer a simpatia comprometida, assim como fizeram Elis Regina e Ivan Lins, ambos também acusados de colaboracionismo com o regime militar. Em tempo: Elis chegou a ser ridicularizada numa charge de Henfil por ter cantado o Hino Nacional num evento cívico patrocinado pelo governo. Escapou quando chegaram a conclusão de que ela só fez isso sob ameaças de prisão. Quando um processo de reabilitação estava em curso para Simonal, era tarde demais: debilitado pelo desgosto e pelo alcoolismo, o cantor que consagrou sucessos como "Mamãe passou açúcar em mim" e "País tropical" faleceu em 2000.

O humorista Jaguar, principal articulador das matérias contra Simonal, chegava a orgulhar-se de ter ajudado a destruído a carreira do cantor. Anos depois, com a iminência da morte do artista, admitiu que cometeu excessos, mas ainda assim não demonstrou arrependimento.Não seria justo responsabilizar apenas O Pasquim pela desmoralização de um cantor tão importante para a MPB quanto Wilson Simonal era. O fato é que, novamente relembrando, ele era negro e muito rico para os padrões da época. Consciente disso, fazia questão de aproveitar e expor para o mundo sua felicidade, desfilando com carros conversíveis e mulheres bonitas. E ia além, era engajado na defesa dos direitos dos negros, em plena época de Martin Luther King (por sinal, compôs uma música chamada "Tributo à Martin Luther King", regravada há pouco tempo por seu herdeiro Simoninha). E num país tão racista quanto o nosso, muitos podem ter se sentido incomodados com o "negão cheio de marra". E deu no que deu, a arapuca foi armada e pode-se dizer que O Pasquim foi um instrumento numa guerra de nervos.

Chama-se a atenção para o seguinte: não é porque existem "mídias alternativas" em contraponto com as chamadas "mídias conservadoras", que as "alternativas" devem sentir no direito de ser a palmatória do mundo. Todas estão sob os mesmos deveres do bom jornalismo: apurar a informação, ouvir os dois lados e permitir ao público o direito de tirar suas conclusões, exatamente o que ficou faltando no caso do semanário O Pasquim, eternamente querido nos nossos corações, mas lamentavelmente falho nessa questão.

*Estudante de 5º período de Jornalismo nas Faculdades Integradas Hélio Alonso. Atuou como repórter da Rádio Tropical - Solimões e colaborador do jornal comunitário Tá Dito.

terça-feira, 10 de abril de 2007

PRODUÇÃO DE ARTE COMO FORMA DE AÇÃO POLÍTICA

Hélio Almeida


Uma das mais radicais manifestações de comunicação alternativa, no sentido ideológico, estrutural e de linguagem, o jornal Versus, lançado em 1975, foi singular em sua produção jornalística e de proposta cultural, o que o diferenciava do Movimento, outro jornal de linha alternativa criado também em 1975. Versus usava metáforas culturais e históricas, criando uma narrativa mítica dos heróis de esquerda.

Lançado por Marcos Faerman, Versus propunha a cultura como forma de ação política. A reportagem factual quase não havia; preferia expressar-se através dos sentidos; valorizava a forma, onde se mesclavam jornalismo, fotografia, desenho, história em quadrinhos, literatura e poesia, adotando a resistência política como manifesto estético, assim como o teatro de resistência e o cinema de resistência.

Versus começou a ser produzido por meia dúzia de jornalistas sem capital, sem empresa, sem equipamentos, mas com o pouco que tinham foram vendendo de mão em mão durante um ano. Já em seu apogeu, em 1977, chegaram a vender 35 mil exemplares. Assinando notas promissórias na gráfica de Pinheiros, que já rodavam jornais alternativos, Versus reuniu, entre outros, Caco Barcellos.

Nas palavras de Bernardo Kucinski, autor de Jornalistas e Revolucionários – nos tempos da imprensa alternativa, versus “era de esquerda sem ser doutrinário, cultural sem ser estritamente literário, e jornalístico sem ser contingente” numa América Latina oprimida por regimes autoritários.

Aos quinze anos, Faerman escreve, edita e distribui jornais estudantis. Em casa, recebe do tio comunista o jornal Semanário, onde há nacionalistas com grande força retórica. Vê a revolução Cubana; torna-se fidelista; entra para o Partido Comunista do Brasil; Vira líder da juventude comunista do colégio; depois vira repórter do jornal Última Hora. Mas é em seu sucessor, o Zero Hora, que Faerman cria juntamente com Luiz Fernando Veríssimo o Caderno de Cultura, o que daria ao nascimento de Versus.

No Caderno de Cultura, do Zero Hora, houve uma edição dedicada a América Latina, uma referência de Versus, trazendo uma integração, latinidade, enfatizando uma cultura um pouco (ou nada) difundida pelos grandes meios de comunicação. Faerman torna-se leitor do Marcha, semanário uruguaio, onde conhece os mestres da narrativa latino-americana: Mario Benedetti, Juan Carlos Onetti, Gabriel Garcia Márquez, Neruda. E também: os Tupac-Amaro, os Sandinos, os Zapatas.

Um visual dramático, transmitindo ao mesmo tempo beleza e tensão, Versus era diferente de tudo que havia sido feito antes na imprensa. Um de seus principais artistas gráficos vivia a cultura da droga, e utilizava desses modos de percepção para a criação gráfica. A plástica de Versus visava o choque estético, buscava transmitir a angústia que estava em todo o continente.

Por volta de 1974 surge na Argentina a Liga Camponesa, que veio a São Paulo no mesmo momento em que a atividade política aumenta no país, e com isso a crescente participação da Liga na Versus. Resultado: houve especulação que Versus estaria caminhando para o gueto, assim como Movimento.

Jorge Pinheiro entra para o Versus com a proposta para a Liga Camponesa de um partido socialista de massas, dentro dos moldes que estava ocorrendo na Europa. Houve resistência mas a idéia aprovada em 1978, com a clandestina Liga lançando a Convergência Socialista, com o apoio da Versus.

O que era um meio de comunicação sem dogmas, usando um estilo new journalism, rompendo com o estilo vigente, tornou-se um jornal com um discurso doutrinário, em direção oposta ao que estava indo. Faerman havia se identificado, assim como a Liga, com as idéias de Trotsky, sua paixão o cegou e ele foi devorado pela Convergência. Faerman assume o discurso político e justifica o alinhamento dizendo que o objetivo é criar um espaço para idéias que estimule o debate. Mas Versus virou folhetim do partido e Faerman perde o controle do jornal.

A qualidade da revista cai. Os argentinos propõem o fechamento de Versus. Eles lançam Caderno para o socialismo e depois um jornal: Convergência Socialista, agora para lutar pelo poder dentro do PT, enquanto Versus agoniza na poética da angústia.

No período dos regimes autoritários, a política fervia no sangue daquela geração que se sentia asfixiada com a repressão. Essa geração criou meios para se expressar como podiam, cada grupo a seu jeito, mas todos com o objetivo de mostrar sua oposição ao regime vigente. Nessa época havia vários jornais que combatiam a ditadura, e Versus era um desses. Ele se diferenciou por sua linguagem, sua estrutura, sua estética. Mas foi cooptado por influências antes externas e versus mergulhou no caldeirão homogêneo da doutrina, que tomou conta e desfez o que era um novo jeito de dizer a mesma coisa naquele momento.

Charge sobre o fim da Guerra no Vietnã




Charge do Ziraldo publicada no O Pasquim (1973) referindo-se ao fim da Guerra do Vietnã.


Fonte: Revista SemeaR 7 - Artigo: CHARGE: CARTILHA DO MUNDO IMEDIATO por Laura Nery

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Documentário O Pasquim - A Subversão do Humor

Clique no ratinho Sig* para ver o vídeo.


* Criado por Jaguar no jornal O Pasquim, o rato Sig é uma alusão ao psicanalista Sigmund Freud (1856 - 1939), e torna-se o símbolo oficial do jornal, aparece na capa e no começo das matérias, e é o mascote da publicação.


Fonte: TV Câmara - Documentário: O Pasquim - A Subversão do Humor http://www.camara.gov.br/internet/tvcamara/default.asp?selecao=MAT&Materia=17536

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Mídia Alternativa

Os diversos núcleos de produção de mídia alternativa são uma força relevante na nova forma de comunicação que vem se constituindo. Partindo da insatisfação com as mídias corporativas, comprometidas com os interesses do capital, esses movimentos visam oferecer uma outra maneira de pensar a função transgressiva da comunicação , sendo tudo isso feito com um aparato técnico mínimo e custos irrisórios. Seus principais Veículos de Comunicação são a Internet, as Rádios Comunitárias e Livres, jornais de baixa circulação e fanzines.

Com várias denominações diferentes, como mídia tática, mídia independente ou mídia sob demanda, essas mídias muitas vezes têm ligações com movimentos sociais de fora da rede. Apesar de já ter havido várias manifestações, o movimento das mídias alternativas tomou um novo vulto com o surgimento do Centro de Mídia Independente.

Outro tipo de mídia alternativa são os veículos geridos pelas próprias fontes, como a institucional, ligadas a organizações públicas ou privadas, e a legislativa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=355DAC001), ligadas aos parlamentos. Alguns dos objetivos destas são justamente a busca de alternativas ao corte editorial da mídia tradicional e o estabelecimento de uma ligação direta entre a fonte e o seu público.


quarta-feira, 4 de abril de 2007

Como surgiram os Jornais Alternativos

Virgínia Lencastre

Os jornais alternativos tiveram seu auge durante o período de regime militar. Nasceram e morreram diversos deles, em especial na década de 70.

A censura, imposta pelo governo, limitou os trabalhos nas redações e contribuiu para a criação de periódicos “não convencionais”, também chamados de “imprensa nanica”, que trouxeram maior liberdade de expressão e satisfação aos jornalistas.

O objetivo principal era lutar contra a intolerância política e formar uma identidade cultural focada nos valores nacionais.

São denominados “Alternativos” por se desviarem do caminho seguido pela mídia tradicional, por criticarem o modelo sócio-econômico e político vigente, por irem contra a ditadura e exigirem mudanças sociais reais no país. Não se deixavam manipular pela estrutura de poder; eram autênticos, irreverentes e contestadores.

Fundado por Millôr Fernandes, “Pif-Paf” foi o pioneiro, em 1964. Depois vieram o “Folha da Semana”, “Bondinho”, O Sol”, “Em Tempo”, “Coojornal”, “Opinião”, “Movimento”, “Versus”, “Ex”, “De Fato”, “Repórter”, e o famoso “Pasquim”. Foram mais de 150 publicações, abordando diversos temas. Porém, a grande maioria não passava da terceira ou quarta edição.

Hoje em dia, poucos veículos seguem esta linha. Os que circulam são uma opção de idéias novas, trazendo uma visão diferente acerca da realidade em que vivemos, abrindo portas ao questionamento e norteando o processo de criticidade.

Neste espaço, vamos resgatar a memória destes jornais e construir uma análise em sintonia com as circunstâncias dos diversos momentos e transformações ocorridas, num mundo cada dia mais dinâmico, tumultuado e imediatista.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Jornalismo na prática - A luta para continuar independente

José Reinaldo Marques


Do ponto de vista histórico, a imprensa alternativa no Brasil surgiu com os movimentos de oposição criados pela esquerda e como proposta editorial alternativa aos veículos da grande imprensa, acusados de defenderem os propósitos da minoria burguesa em detrimento do interesse público. Mas, afinal, qual é o verdadeiro papel da imprensa alternativa brasileira?

Nos anos 60 e 70, durante a ditadura militar, nasceram no Brasil jornais, como O Pasquim (1969), Opinião (1972), Movimento (1975) e mais adiante Em Tempo (1977), que faziam um jornalismo corajoso de oposição por entender que seriam um contraponto à grande imprensa que era acusada de ter colaborado e se beneficiado com o Golpe de 64, além de não oferecer aos leitores um noticiário independente e crítico ao regime imposto ao País.

Ao analisar esse período, o jornalista e professor Perseu Abramo (1929 —1996) escreveu um ensaio intitulado "Imprensa alternativa: alcance e limites", em que ressaltava o caráter polêmico do tema, por ser difícil "caracterizar com precisão o papel da imprensa alternativa dos anos 60. (...) No sentido estrito do termo, essa imprensa nunca foi de fato alternativa à chamada grande imprensa ou imprensa burguesa", porque os leitores não dispensavam a leitura dos grandes periódicos, como Correio da Manhã ou o Jornal do Brasil para se contentar com a leitura de Opinião ou Movimento.

Na opinião do veterano Alberto Dines, diretor do Observatório da Imprensa, quem começou a estabelecer o modelo de imprensa nanica de oposição no Brasil foi o jornalista José Maria Rabêlo, nos anos 50, com o jornal Binômio, em Minas Gerais, que investia contra o Governo de Juscelino Kubitschek e que teve boa aceitação pública:
Hoje não há imprensa alternativa, o que existe é a mídia alternativa, a partir dos lançamentos dos sites, blogs etc. Acho muito difícil se conseguir traduzir em termos contemporâneos as experiências dos anos 60 e 70. Nós do Observatório da Imprensa, em 1994, chegamos a pensar em lançar um jornal, mas percebemos que seria inviável financeiramente e optamos pela publicação eletrônica que está no ar desde 96.

Para o Presidente da Associação para o Desenvolvimento da Imprensa Alternativa (Adia), Achille Lollo, é preciso fazer uma distinção entre o que era a imprensa alternativa há três ou quatro décadas e os veículos que circulam no presente:
— No passado, alguns desses jornais foram considerados alternativos porque formavam uma opção à grande imprensa que circulava no regime militar. Por isso, a fragilidade tecnológica, organizativa e financeira se superava com o espírito de militância. Aquela imprensa alternativa morreu não só pelas difíceis condições de trabalho devido à censura, mas, sobretudo, pelos altos custos de produção.

Lollo acha que o golpe fatal foi dado após o processo de democratização do País, quando os grandes grupos de comunicação começaram a cooptar os melhores jornalistas e gráficos daqueles jornais:
— Isso fez com que as pequenas e médias publicações ficassem cheias de dívidas e sem jornalistas brilhantes para produzir edições interessantes e continuar atuando de fato como uma imprensa alternativa.

A Adia foi fundada no Rio em maio de 1996, no momento em que era fechado o tablóide semanal Nação Brasil, publicado com o fundo do sindicato dos petroleiros:
— Tínhamos como proposta editorial construir um órgão de imprensa alternativa independente e de esquerda, cuja função social seria assessorar e apoiar todos os projetos de imprensa elaborados por entidades do movimento popular.

O semanário Nação Brasil acabou virando Jornal Nação Brasil e, depois, Revista Nação Brasil, que hoje circula com outras duas publicações trimestrais: Critica Social e Conjuntura Internacional .


Discriminação

A maioria dos proprietários ou editores-chefes de veículos de pequeno e médio porte acha que um dos graves problemas que enfrentam é o preconceito do mercado publicitário. O jornalista Ricardo Rabêlo, diretor do carioca Bafafá, afirma que isso não mudou com a democratização do País:
— Muitas vezes, sequer somos recebidos pelas agências. Acredito que, por desinformação ou falta de visão, elas ainda não perceberam o filão que representa o mercado alternativo.

Achille Lollo, por sua vez, diz:
— Durante o regime militar, existiam dezenas de jornais alternativos. Hoje, em plena democracia, a ditadura de mercado engoliu as publicações, enquanto as grandes redes de TV e os jornais ligados a poderosos grupos de mídia receberam empréstimos superfacilitados do BNDES. Quando era Ministro das Comunicações, o Gushiken foi muito claro com os representantes dos veículos Brasil de Fato, Caros Amigos, Correio da Cidadania e Reportagem, que foram pedir anúncios do Governo Federal em 2002: "Se quiserem publicidade, devem apoiar o Governo!"

Para tentar reverter esse quadro, Lollo conta que os representantes da imprensa alternativa encaminharam em maio de 2004 ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) — eleito com o apoio da mídia alternativa e advogado dos jornais Opinião e Movimento no período da ditadura — um documento reivindicando o direito de concorrer às verbas publicitárias do Governo:
— Infelizmente, este foi um dos tantos documentos que foram para o Congresso e lá morreram. Não sei o que o Greenhalgh fez com o documento, nem se este ainda existe.

O deputado alega não ter recebido o documento e promete remetê-lo para a Secretaria de Comunicação ou o Ministério das Comunicações se ele chegar às suas mãos, pois acha justa a reivindicação dos meios alternativos:
— É preciso democratizar o acesso às verbas publicitárias oficiais. Os jornais alternativos e populares têm direito a receber esses recursos.


Legislação

Beatriz Bissio, diretora da Cadernos do Terceiro Mundo, confirma "a discriminação asfixiante" sofrida pelas publicações classificadas como alternativas. Segundo ela, a revista atravessa um momento de dificuldade: o último número circulou em junho deste ano:
— Acho que devíamos ter aqui a mesma ferramenta jurídica de países como Argentina e Uruguai, onde uma legislação específica regula a distribuição da publicidade oficial. O Estado é obrigado a distribuir verbas publicitárias entre todos os meios de comunicação e os critérios que contam são aspectos regionais, de tiragem e de tempo de atuação no mercado.

Beatriz espera que essa situação seja apenas momentânea e afirma que a Editora Terceiro Milênio, responsável pela revista, não vai abandonar o projeto, "até porque são inúmeras as manifestações de lealdade por parte de leitores e assinantes".
— Eles dizem que há um vazio deixado pela revista e, até o ano que vem, esperamos recuperar a periodicidade mensal.


A Cadernos do Terceiro Mundo foi criada por jornalistas foragidos das ditaduras instaladas na América do Sul nos anos 70 e lançada em Buenos Aires, em 1974, por Neiva Moreira — exilado brasileiro —, Beatriz Bissio e dois argentinos, com uma proposta editorial de abordar não apenas questões latino-americanas, mas também de países da África e da Ásia que lutavam contra a colonização. Diz ela:
— Tínhamos matérias sobre as guerras de libertação em Angola e Moçambique, os conflitos no Oriente Médio e a resistência ao apartheid, na África do Sul. E falávamos da América Latina para latino-americanos que, de certa forma, desconheciam aspectos importantes da própria realidade, devido à censura e à falta de elos de comunicação na região. É perfeito chamar a ótica com que tratávamos os assuntos de alternativa, pois nossa visão era contrária a muitas das bandeiras defendidas pelos grandes veículos de comunicação.


Contraponto

Em São Paulo, Nilton Viana, editor-chefe do semanário Brasil de Fato, de circulação nacional, diz que os jornais independentes — como prefere chamar — surgiram da necessidade de os movimentos populares terem os seus próprios meios de comunicação:
— Na luta por uma sociedade justa, fraterna e igualitária, a democratização dos meios de comunicação é fundamental. No nosso jornal, o principal objetivo é justamente fazer o contraponto aos veículos capitalistas.

Lançado em 25 de janeiro de 2003, no Fórum Social Mundial de Porte Alegre, o Brasil de Fato começou a circular oficialmente em 8 de março do mesmo ano e hoje alcança a tiragem de 50 mil exemplares. A redação funciona com
um editor-chefe, quatro editores, quatro repórteres, uma secretária de redação e três estagiários, além de contar com colaboradores no Brasil e no exterior.

Nilton é otimista em relação à qualidade jornalística dos veículos alternativos. Para ele, "a esquerda brasileira conta com os melhores profissionais de imprensa do País".
— No Brasil de Fato, organizamos o que chamamos de comitês de apoio, que constituem uma parte vital da estrutura de funcionamento do jornal. Eles são formados em cada Estado — já os temos em 20 — e funcionam como agências de notícias e divulgadores do nosso produto editorial. Sem eles, ficaríamos restritos ao eixo Rio—São Paulo, reproduzindo a tradição da mídia capitalista. A idéia é que no futuro, quando circularmos diariamente, esses comitês se transformem em sucursais.


Visão crítica

Arthur Cantalice — 80 anos de idade e há 22 colunista do Correio da Lavoura, semanário de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense — tem uma visão muito crítica em relação aos veículos alternativos. Para ele, a grande maioria tem baixa qualidade editorial e funciona sem profissionais. A culpa, diz, é dos donos desses jornais, que geralmente alegam não ter condições financeiras para remunerar jornalistas:
— Muitos colunistas acabam cumprindo o papel dos repórteres, função que há muita gente exercendo sem ser do ramo. São professores, médicos e gente de outras profissões que escrevem sobre assuntos ligados às suas atividades.

O próprio editor do Correio da Lavoura, Robinson Belém de Azeredo, herdou o jornal da família — seu avô, Silvino de Azeredo, fundou o Correio da Lavoura 88 anos atrás — e não é jornalista:
— Ele escreve bem, mas nunca trabalhou em outro jornal, não conhece o dia-a-dia de uma
redação — diz Cantalice. — Acho que hoje o principal desafio da imprensa alternativa é a profissionalização; só assim ela poderá fazer um jornalismo de qualidade. No entanto, é um objetivo difícil de ser atingido, porque os veículos não contam com o interesse dos seus proprietários, que só pensam na arrecadação de verbas oficiais e põem o jornalismo em segundo plano.

Em tese, ele acredita que, de modo geral, os jornais independentes não sabem aproveitar o direito assegurado pelo estado democrático para expor o que é preciso sobre o processo político e outros assuntos de interesse público:
— Infelizmente, os donos de pequenos jornais não se convencem de que não se deve trocar a opinião pelo anúncio. Neste aspecto, saúdo o Correio da Lavoura, que ainda mantém a sua tradição crítica.


Qualidade

A teoria da baixa qualidade editorial dos jornais de médio e pequeno porte, ressaltada por Arthur Cantalice, não é integralmente aceita por vários colegas que atuam no mesmo seguimento.

Beatriz Bissio, por exemplo, considera difícil a sobrevivência de veículos que põem os interesses pessoais dos proprietários acima do interesse social. No quesito qualidade, ela ressalta que só há sobrevivência no meio de comunicação se houver conteúdo. Cita também a importância dos jornais de bairros, que, apesar de muitas vezes serem feitos de forma amadorística, abrem espaço para debates sobre os problemas que afetam grande parcela da população:
— Vale lembrar que eles surgiram antes que a grande mídia se apropriasse dessa boa idéia e usasse seu poder para entrar nesse segmento, ao descobrir que havia aí um potencial muito grande e um mercado onde se expandir.

Luiz Falcão, diretor de redação do jornal A Verdade, de Pernambuco, diz que, apesar das dificuldades que os independentes enfrentam, é impossível falar da história da imprensa brasileira sem falar no segmento alternativo:
— O que houve após o fim do regime ditatorial foi que muitos jornalistas que trabalhavam nos jornais independentes se incorporaram aos grandes periódicos e isso enfraqueceu esse segmento da imprensa.


A Verdade

Segundo Falcão, foi lançado há cinco anos com inspiração no extinto Movimento e a proposta de ser um órgão a serviço da emancipação da classe trabalhadora:
— Nos primeiros números, sofremos muito. Tínhamos muita vontade, mas faltava experiência. Felizmente, nunca tivemos que recolher uma edição.

Com tiragem de 7 mil exemplares e circulação mensal, A Verdade é lido principalmente por universitários, secundaristas e trabalhadores. Como estratégia de propaganda e distribuição, são montadas brigadas de vendas do jornal nas portas de fábricas:
— No Rio de Janeiro, temos uma boa venda nas metalúrgicas. Realizamos três brigadas por mês e também contamos com uma rede de militantes que vendem o jornal em suas vizinhanças e seus locais de trabalho.


Monopólio

Carlos Lopes, diretor de redação do Hora do Povo, lançado em São Paulo em 1979, não gosta de usar o termo alternativo para classificar os jornais que estão à margem das grandes empresas de comunicação. Para ele, é natural que as várias tendências que existem na sociedade tenham veículos próprios:
— O que não nos parece natural é a existência de um monopólio de mídia uniforme e comprometido com interesses antinacionalistas, antidemocráticos e antipopulares.

Ele destaca que a década de 60 "não foi exatamente a do surgimento de um jornalismo alternativo", mas a do esmagamento da imprensa nacional e popular que havia antes de 1964, "sobretudo da Última Hora, cuja herança temos como referência".
— Os integrantes do cartel da mídia defendem interesses opostos aos do povo e do País.

O jornal Hora do Povo circula às segundas e quartas-feiras, com tiragem média de 50 mil exemplares por edição, e também sofre com a falta de recursos, segundo Carlos Lopes:
— A falta de recursos — isto é, o monopólio do dinheiro em mãos de certos órgãos — certamente é um problema, mas não afeta nossa qualidade; é, especialmente, um obstáculo à ampliação da distribuição e da tiragem.


Mercado

Ricardo Rabêlo, do Bafafá, concorda que as barreiras a vencer são as da comercialização e da profissionalização:
— Para ser sincero, não há mercado de trabalho na imprensa alternativa e a comercialização no setor é complicada. Hoje sou 70% empresário, 30% editor. E, por enquanto, não vejo grandes perspectivas de crescimento.

Ricardo é filho do jornalista José Maria Rabêlo, criador do jornal Binômio, de Minas Gerais, fechado pelos militares no golpe de 64 e considerado um dos precursores da imprensa independente brasileira. Segundo ele, o Bafafá nasceu "da ausência de veículos de opinião no Rio e seu nome foi proposital para criar polêmica em torno de temas da cidade, do País e do mundo".

O tablóide mensal não tem redação ou folha salarial, apenas colaborações, e seus 10 mil exemplares circulam nas Zonas Sul e Centro do Rio, em Búzios, no litoral fluminense, em Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e Brasília:
— Somos um jornal de esquerda não sectário que quer debater as mazelas da sociedade — enfatiza Ricardo.


Passado e futuro

Os espírito combativo dos anos de chumbo, em que surgiram títulos como Movimento e Opinião, parece resistir. Apesar dos desafios, muitos editores acreditam na recuperação e sobrevivência da imprensa alternativa, apostando no talento, na criatividade e na seriedade de seus objetivos para continuar circulando. Mas todos estão conscientes de que, num mundo globalizado e capitalista, boa vontade e ideologia não são suficientes para mantê-los nas bancas: é preciso profissionalizar as redações e virar um mercado real e seguro para atrair os bons profissionais da imprensa.

Carlos Lopes, da Hora do Povo, diz que à medida que as forças e os interesses nacionais e populares cresçam na sociedade, a imprensa que os representa tenderá a crescer naturalmente:
— Este é um processo que, aliás, já está em curso há algum tempo — afirma.

Luiz Falcão, do jornal A Verdade, sugere que a questão dos recursos seja enfrentada coletivamente e acha que, na área de recursos humanos, a onda de demissões nos grandes jornais favorece os pequenos e médios veículos:
— A situação atual impõe uma reflexão que pode fortalecer a imprensa alternativa. A liberdade para expressar opiniões é o principal para um jornalista, e isso o meio alternativo garante.

Nilton Viana, do Brasil de Fato, considera a questão financeira fundamental e se diz favorável à criação da Associação Nacional dos Jornais Alternativos (AJA), movimento lançado no Rio de Janeiro:
— Acho a iniciativa muito positiva, pois precisamos de uma entidade que proteja nossos interesses, já que é quase impossível montar um jornal independente sem a ingerência do poder econômico do grande capital. E os veículos alternativos não devem abandonar as bandeiras que levaram ao seu surgimento. Devemos somar esforços para conseguir a viabilidade financeira, mas também devemos continuar lutando pela democratização da comunicação em nosso País.

Nas palavras do professor Perseu Abramo, mesmo sem conseguir alcançar todos os seus objetivos a mídia alternativa surgiu como opção ideológica e política da classe trabalhadora frente ao sistema capitalista:
— Inegavelmente, foi uma das forças que abalaram a ditadura e abriram perspectivas de mudanças democráticas que ainda estão por se realizar.


Fonte: ABI - Associação Brasileira de Imprensa - http://www.abi.org.br/


Pesquisado por Fernanda Pontes