Texto e fotos: Renata Moreira Lima
Simpático, irreverente e "boêmio de carteirinha", o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, se consagrou com o traço tosco, mas de mote inteligente. Esse ano um dos homens fortes do Pasquim tem a incumbência de separar o material de mais de 20 anos que esteve no jornal para uma coletânea que será lançada em março. Ele gosta de dividir o tempo entre chopes, amigos e trabalho e garante que é o melhor cartunista do Brasil! Em entrevista ao jornal JÁ, Jaguar conta um pouco mais sobre suas manias e a vida boêmia que não se cansa de levar.
Jornal JÁ: Você tem 51 anos de carreira. Como avalia o seu desempenho hoje?
Jaguar: Estou melhor. O que vale no desenho não é o traço, eu sempre desenhei mal. Quando levei meus desenhos para o Hélio Fernandes (Tribuna da Imprensa) ele falou que eram horríveis, para eu desistir que não tinha o menor jeito! E ele tinha razão. O Angeli, que desenha bem pra burro, e admiro muito, diz: é fácil imitar o Jaguar, basta não saber desenhar! (risos) A idéia é que vale para o humor do desenho prevalecer.
O Nani, por exemplo, é ótimo! Ele chegava no Pasquim com 10 desenhos bons por dia. Eu até brincava, dizia para ele ir à praia, namorar... (risos)
Simpático, irreverente e "boêmio de carteirinha", o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, se consagrou com o traço tosco, mas de mote inteligente. Esse ano um dos homens fortes do Pasquim tem a incumbência de separar o material de mais de 20 anos que esteve no jornal para uma coletânea que será lançada em março. Ele gosta de dividir o tempo entre chopes, amigos e trabalho e garante que é o melhor cartunista do Brasil! Em entrevista ao jornal JÁ, Jaguar conta um pouco mais sobre suas manias e a vida boêmia que não se cansa de levar.
Jornal JÁ: Você tem 51 anos de carreira. Como avalia o seu desempenho hoje?
Jaguar: Estou melhor. O que vale no desenho não é o traço, eu sempre desenhei mal. Quando levei meus desenhos para o Hélio Fernandes (Tribuna da Imprensa) ele falou que eram horríveis, para eu desistir que não tinha o menor jeito! E ele tinha razão. O Angeli, que desenha bem pra burro, e admiro muito, diz: é fácil imitar o Jaguar, basta não saber desenhar! (risos) A idéia é que vale para o humor do desenho prevalecer.
O Nani, por exemplo, é ótimo! Ele chegava no Pasquim com 10 desenhos bons por dia. Eu até brincava, dizia para ele ir à praia, namorar... (risos)
Jornal JÁ: Em artigo publicado no jornal O DIA você atentou para o fim da profissão de cartunista. A profissão está, realmente, em extinção? Qual a solução para salvá-la?
Jaguar: Não tem solução. Por exemplo, eu sobrevivo fazendo charge. Uso a técnica de cartunista para fazer a charge. São duas coisas bem diferentes: se eu faço uma charge, hoje, sobre o Palocci, ela é baseada nos acontecimentos políticos atuais. Daqui a três anos ninguém sabe quem é Palocci. A charge acaba perdendo o sentido. Já o cartum, você faz e daqui a 20 anos pode ser entendido. Um exemplo de cartum: David Neves desenhou o Aleijadinho com um amigo, Ouro Preto ao fundo, e ele dizendo: hoje me chamam de aleijadinho, mas a posteridade me fará justiça! (risos) Até hoje quem sabe o nome dele? (risos). Isso é cartum!
Jornal JÁ: No mesmo artigo do jornal você cita Don Rossé Cavaca e o fato dele ser pouco lembrado nos dias de hoje. O Brasil é um país sem memória? Você teme que algum dia o seu trabalho caia em esquecimento?
Jaguar: O Cavaca era absolutamente genial! Ótimo humorista! Ele vendia o livro dele de bar em bar. (risos) O Antônio Maria fazia uma espécie de horóscopo e colocava: hoje você vai estar num bar e Don Rossé Cavaca vai chegar e vender o livro. (risos) Enquanto eu estiver vivo, Cavaca não vai cair em esquecimento. Inclusive a minha próxima matéria na revista Argumento vai ser sobre ele.
Eu não temo pela perda dos meus trabalhos porque eu quero que se dane! Eu já fiz, aproximadamente 30 mil desenhos em 51 anos, sou o único cartunista que nunca parou, nunca teve férias. Dos meus desenhos, se eu tiver 200 deles é muito! Quando não tinha esse negócio de internet, eu mandava os originais. O Henfil tinha uma copiadora em casa, nunca mandava os originais. Volta e meia eu chego na casa de alguém e tem um quadrinho com o meu desenho! (risos). Então, pouco me importa, não ligo para isso enquanto estou vivo, quanto mais depois de morrer!
Jornal JÁ: Além dos trabalhos no DIA e na Revista Argumento, o que planeja para 2006?
Jaguar: Estou preparando o melhor do Pasquim, que vai sair em março, com os 150 primeiros números. Serão quatro volumes ao todo. Fiquei espantado, tem muita coisa! São vinte e tantos anos que fiquei no jornal...
Nessa pesquisa eu vi a qualidade dos textos do Vinícius. Ele traça uns perfis de alguns amigos dele: Antônio Maria, Di Cavalcante... Absolutamente brilhante o texto dele, fantástico!
Jornal JÁ: Você conheceu o Vinícius de Moraes?
Jaguar: Não tive grande intimidade, ele era de uma turma acima da minha, tinha uns sete anos a mais. Ele era amigo do Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Millôr. Eu era aspirante.
Nos encontrávamos no 706 que era um bar onde hoje é o Júlio Bogoricin - pra você ver como o Rio está diferente! Jorge Ben, Gato Barbiere, Menescal davam canja, todos os craques tocavam lá. Eu sempre ia à noite quando estava casado com uma "negona" de 1.80m e Vinícius estava sempre na entrada. Tanto não tínhamos intimidade, que ele não me chamava de Jaguarzinho, nem eu o chamava de Poetinha, era Vinícius e Jaguar. Mas tive uma passagem com ele. Estava com o Millôr em Salvador num festival e fomos à casa do Vinícius que estava morando em Itapuã. Ele nos ofereceu um uísque. Estávamos bebendo e conversando quando chegou a mulher dele e expulsou a gente, dizendo que só estávamos ali para sujar o verniz da mesa dela! (risos) Saímos e ficamos bebendo na praia. (risos)
Jornal JÁ: O Pasquim tem tudo a ver com a sua carreira, foram cerca de 20 anos no jornal. A política é um ponto presente nos seus desenhos, principalmente nas charges. Como você vê o momento político que o Brasil atravessa? Se arriscaria a fazer uma análise?
Jaguar: Estou muito decepcionado. Eu sempre fui contra o governo, mas esperava que dessa vez fosse a favor, votei quatro vezes no Lula e deu nisso! Felizmente, fiz a minha parte e estou fora. Nas próximas eleições eu não voto mais, vou usar o meu direito de não votar e vou ficar tomando minha cervejinha lá em Itaipava... (risos) Acho que isso não tem mais jeito! Se o cara que a gente tinha a maior esperança de consertar esta porcaria de país, desandou... Não vejo a menor perspectiva. Agora vocês, que são jovens, estão com problemas, porque eu, qualquer dia desses, tenho um piripaco aí e pronto, fico livre desse negócio! (risos) Mas fico com pena de vocês viverem num país que não vejo como vai sair dessa encrenca. Mas isso é uma depressão política, acho a vida ótima! Eu sou capaz de curtir até Brasília, onde estou morando... (risos)
Jornal JÁ: Você morava aqui no Leblon, não é?
Jaguar: Pois é. Minha mulher foi convidada para um cargo no Ministério da Saúde. Ela não tinha aceitado porque achou que eu não ia... Disse: você, super carioca, não vai sair do Rio nem amarrado! Respondi: saio até desamarrado mesmo! Lógico que eu fiz isso porque gosto muito dela. Cheguei lá achando que ia achar horrível e vi que não. Tem grandes bares e restaurantes, as pessoas são muito amáveis. Eu só conhecia o "centrão", antigamente eu ia e voltava no mesmo dia. Brasília é uma cidade com muita vegetação, muita água, o lago Paranoá... Tem uma cidade muito bonita perto que se chama Pirenópolis, que é uma espécie de Paraty, sem praia, claro! (risos)
Jornal JÁ: Mas, com isso, você deixou o Leblon?
Jaguar: Não deixei, porque eu tenho um contrato com o jornal O DIA, então venho, pelo menos, uma vez por mês. Agora, por exemplo estou há 10 dias no Rio e vou ficar mais três.
Jornal JÁ: Então você está ficando aqui de temporada...
Jaguar: É. Eu tenho três casas: esse apartamento aqui, o apart-hotel que estou em Brasília e uma casa em Itaipava. O problema é que, às vezes eu tomo um porre na véspera e não sei em que casa eu estou. De noite, por exemplo, quero ir ao banheiro e penso que estou em Itaipava quando estou no Rio ou em Brasília! Eu acho que o banheiro é por ali e bato com o nariz na parede! (risos)
Jornal JÁ: Você sente falta do Rio?
Jaguar: Uma das vantagens de morar fora do Rio é voltar para o Leblon e ter a constatação de que é o melhor lugar do mundo para se morar, não tem nada parecido! E olha que já fui a muitos lugares: Barcelona, Porto, Roma, Paris, nada! Só tem um problema: é difícil sair daqui. Em Brasília eu vejo muito mais shows. Pego o carro e em dez minutos eu estou no local do show. Aqui eu perco grandes espetáculos naquele Claro Hall, na Barra, na Lapa que tem uns maravilhosos! Sempre estou aqui no Leblon. Há um tempo atrás eu não tinha horário, então pegava o carro às 3h da manhã e ia para a Lapa, ficava "biritando"... Agora penso: bom, posso ser assaltado na saída, no sinal, na chegada, na volta... Acabo desistindo. Hoje, por causa do risco de sair à noite, os boêmios, os caras que eram de virar noite como eu, Otávio Augusto, Antônio Pedro, Carvana, estão bebendo à tarde, quando dá 8h da noite está todo mundo de porre e acaba dormindo cedo.
Jornal JÁ: Morando em Brasília, você tem saudade de acordar com as galinhas do Leblon?
Jaguar: Engraçado que a minha casa em Itaipava é no meio do mato e ouço muitos passarinhos, mas galinha e galo, só no Leblon! (risos) Essa história foi engraçada porque, quando eu ouvi pela primeira vez, perguntei ao jornaleiro de onde vinha o som. Ele disse que era da 14ª DP e escrevi uma crônica sobre o assunto. No dia seguinte, dois policiais armados bateram na minha porta, se identificando como sendo da 14ª. Eu elogiei a eficiência deles, como eles sabiam onde era a minha casa? Perguntei se tinha cometido algum crime. E eles: porque o senhor escreveu na sua crônica que mora em frente! (risos). Viemos esclarecer o assunto das galinhas: elas não são nossas, mas da Delegacia Anti-Sequestro que é ao lado. (risos)
Jornal JÁ: Você é um dos fundadores da banda de Ipanema e está declarando o seu amor ao Leblon. Mas você morava em Ipanema antes, não é?
Jaguar: Quando eu fundei a banda de Ipanema com o Albino Pinheiro, Ferdy Carneiro, aquele bando de malucos, eu morava em Copacabana. Quando a minha mãe faleceu herdei o apartamento dela na Praça General Osório onde morei bastante tempo. Mas Ipanema deteriorou daquela época... Agora a Praça melhorou, com o Belmonte, o Terceto, está mais agradável do que a um tempinho atrás. Acho que o Leblon é, hoje, o que Ipanema era há alguns anos. É o melhor lugar do mundo!
Jornal JÁ: E a Banda de Ipanema?
Jaguar: Estou completamente fora da Banda. Acho que, quando o Albino morreu, a Banda tinha que ter acabado. Foi desvirtuada, virou banda gay e de patrocínios. Houve um ano que foi bancada por um guaraná. Agora você imagina um monte de "biriteiros' com camiseta de guaraná! Antes era divertido, familiar!
Aquela área virou ponto gay de um tempo pra cá. Eu morava na General Osório e, durante anos, costumava almoçar no Bofetada. Até que eu li na coluna do Zózimo Barroso do Amaral que tinha virado ponto gay. Eu não sabia! Perguntei ao garçom. Ele disse: não doutor, é o seguinte, até às 16h está limpo! (risos)
Jornal JÁ: E quais são os melhores lugares para a boemia hoje?
Jaguar: Como eu não gosto de pegar carro, saio aqui por perto. Desço de casa e tem logo ali o Senegal, depois eu vou até o Pala D'ouro, de lá eu vou para o bar Redentor na Paul Redfern ao lado do La Botella, onde posso comer um sanduíche caprichado! Depois eu volto para Leblon e vou para Clipper, (risos) depois para o Bracarense (risos). E aí acabou o dia! Mas não é sempre, eu tenho que fazer as minhas coisas, minhas charges e cartuns.
Outro dia, estava com Antônio Pedro no Clipper quando tivemos a idéia de ver o filme do Vinícius (de Moraes). Assistimos metade, agora tenho que ver o começo do filme. Que é excelente! (risos)
Jornal JÁ: Para que a profissão de cartunista não acabe, que dica você daria aos aspirantes a Jaguar?
Jaguar: Eu sempre desaconselhei. Até porque fizeram isso comigo. Se o cara nasceu para isso, não vai desistir só porque o babaca do Jaguar falou que ele não deve tentar! Quando levei meus desenhos para o Hélio Fernandes ele falou para eu desistir! Eu comecei imitando um desenhista francês de terceira categoria.(risos)
O melhor cartunista que eu conheci, brasileiro, felizmente parou: chama-se Reinaldo, que resolveu parar de desenhar e se dedicar ao Casseta e Planeta. Ele é um gênio! Como ele parou, me considero o melhor! Até que provem o contrário! (risos)
Um caso impressionante foi um menino de 16 anos, que chegou no Pasquim perguntando o que eu achava do desenho dele. Eu ri e disse que um guri de 16 anos não podia fazer um desenho daquele. Ele respondeu: é meu mesmo! Amanhã eu trago outros! O cara nasceu pronto! Agora ele está no jornal Extra: Leonardo. Ele é fantástico!
Eu acho legal que os jovens cartunistas me respeitam. Talvez porque eu não seja rico ou porque eu seja porra-louca, talvez porque eu seja muito bêbado! (risos)
Fonte: Jornal Já - http://www.jornalcopacabana.com.br
Enviado por Marcio Bittencourt
4 comentários:
Fala galera, aqui é o Pedro Cruz.
hahahahha, Jaguar é meu ídolo!
Sempre de porre....
Muito boa a entrevista e o blog de vcs tá de parbéns!
Ótima a entrevista de REnata Moreira Lima com o Jaguar.
Um grande porre!!!!
Saiu no Jornal JÁ - Ipanema Leblon e Gávea, e agradou em cheio.
Márcia Martins - Rio
Estava procurando material sobre o Jaguar e achei esta entrevista.
ShoW!
Eu sei de uma cadeia de restaurantes em itu que tem muitos desenhos nas paredes, entre eles há alguns de Antonio.
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