quarta-feira, 18 de abril de 2007

O MAIS ANTIGO DOS ALTERNATIVOS

Helio Almeida


Semanário das ligas anticlericais do Estado de São Paulo, o jornal A Lanterna surgiu em 1901, com uma tiragem de mil exemplares, era distribuído inicialmente de forma gratuita e caracterizou-se por suas caricaturas anticlericais. Em seu primeiro editorial, questionava: “somos apenas um punhado de homens. Somos 10? Somos 20? Que importa? Seremos legião amanhã, quando todos os que sabem o quanto o batismo embrutece os povos, decidirem engrossar as nossas fileiras”.

Após setenta edições, A Lanterna interrompe sua publicação em 1904, mas reinicia em 1909, lançando mais 293 exemplares até 1916. O diretor Edigar Laurenroth consegue lançar em 1933 mais 45 números de A Lanterna.

O romancista Lima Barreto foi colaborador do jornal assinando seus artigos com o pseudônimo de “Dr. Bogoloff” e depois sob seu próprio nome. Fascinado pela revolução de outubro na Rússia, Barreto também escrevia para outros jornais: O Cosmopolita, O Parafuso, A Luta, O Debate.

Com uma linguagem acessível, A Lanterna retratava de forma humorística a ação da igreja católica no Brasil. Próxima do Estado, a igreja era vista como atraso, pois era entendida como vendedora de seus serviços e que abusava da mentalidade dos trabalhadores e das mulheres. Era a visão de uma igreja cada vez mais romanizada e indiferente a realidade brasileira e sendo percebida como instituição política. O jornal reclamava da falta de pensamento nos anos 30 e a influência da igreja no ensino oficial.

Havia textos de Vitor Hugo, Bakunim, às vezes muito polêmicos, com críticas ácidas à igreja, ao demonstrarem as atividades da liga anticlerical, reprimidas pelas autoridades do Departamento Estadual de Ordem Política e Social – DEOPS. Seus colaboradores apresentavam-se com nomes zombeteiros, como “Frei Bisbilhoteiro”.

Além das crônicas, A Lanterna também havia notícias como aquela ocorrida em 1935, no estado do Paraná, onde padres andavam armados por cidades do interior e eram suspeitos de atearem fogo em um templo protestante. O jornal alertava para o fato de a igreja católica usar meios ilícitos para garantir seu predomínio no campo da fé dos brasileiros. O Vaticano era caracterizado como central de arrecadações; uma organização imperialista que canalizava a economia das famílias e as empobrecia, deixando-as em estado de miséria.

O jornal foi extinto, acusado de subversão pelo DEOPS. O anarquista Benedito Romano foi preso quando estava prestes a pegar um conjunto de material impresso, vindo do exterior.

2 comentários:

PC Guimarães disse...

Beleza, pessoal! Belo trabalho. Eu não conhecia.
pc

Cecilia Pires disse...

O artigo cita o jornal O Parafuso. Gostaria de ter emais notícias a respeito, porque meu tio, Manoel Gomes Teixeira, era um dos jornalistas dele. E acabou com o apelido de Parafuso. Por isso, minha mãe, irmã dele, era chamada de A Porca. hehehe..
Alguém tem alguma fonte onde eu possa conferir os dados que minha mãe contava, inclusive a participação desse jornal na Semana de Arte Moderna de São Paulo, de 1922????