Com o passar do tempo, cada vez mais independente da ASPA, o grupo resolveu trocar o nome da TV, já que o anterior não atraía muito as pessoas e não dava visibilidade ao trabalho. Durante uma pesquisa no “Varal de Lembranças” – bazar de coisas antigas realizadas na Rocinha – acharam um jornal comunitário da década de 80 que se chamava Jornal Tagarela. Os jovens gostaram do nome e a ASPA Vídeo passou a chamar-se TV Tagarela.
Em 2003, a TV Tagarela desvinculou-se de vez da ASPA. A separação trouxe algumas dificuldades, uma vez que não tinham recursos para as produções. A TV não contava com um espaço físico. Todo o material (microfone, acervo de fitas...) era espalhado pelas casas dos membros da TV. A TV comunitária mesmo assim continuou a produzir com a ajuda de outros grupos que emprestavam seus equipamentos para a realização do trabalho.
Ainda em 2003, a TV adquiriu uma câmera digital-8 através de um projeto enviado para a FASE – Federação de Órgãos para Assistência e Educação. Foi quando puderam se dedicar mais à produção do filme Entre Muros e Favelas, uma parceria entre as TVs ATREVER, de Manguinhos; Tagarela, da Rocinha, e a ONG Alemã AKRRAK. O filme, que retrata a violência policial nas favelas do Rio de Janeiro, ganhou em 2005, o prêmio Jangada de melhor documentário média metragem etnográfico.
Toda a trajetória da TV Tagarela é marcada por muita luta, resistência e também conquistas. No ano de 2004, eles enfim adquiriram um espaço físico para a sede e o funcionamento da TV. Na verdade, esse espaço é um andar de um prédio abandonado, que os membros da TV comunitária dividem com a Associação CACOC (Cultura, Arte e Comunicação Comunitária) da Rocinha, que desenvolve, entre outras coisas, o jornal comunitário Tá Dito. Neste mesmo ano, o grupo, para conseguir os equipamentos necessários para o funcionamento da TV, produziu dois vídeos comerciais: um para a Petrobras e outro para a Fiocruz. Com o dinheiro ganho, compraram materiais para a produção dos programas.
A TV Tagarela conta ainda com a ajuda da FACHA (Faculdades Hélio Alonso), através do NECC (Núcleo de Educação De Comunicação Comunitária), desde a sua fundação. A FACHA disponibiliza cursos técnicos e bolsas de estudo do Curso Superior de Comunicação Social para que eles melhorem, a cada dia, o trabalho desenvolvido na comunidade e, também, para que tenham mais oportunidade na sociedade .
Segundo os "tagarelas", a TV não quer institucionalizar-se, tampouco quer se transformar numa ONG. Quer continuar como um movimento e permanecer com os seus ideais intactos de mobilização e participação popular através da comunicação, com o objetivo de despertar o potencial dos moradores de uma determinada comunidade. Atualmente, a TV Tagarela produz vídeos, faz exibição de filmes, mantém um site próprio e promove eventos culturais na comunidade.
A TV Tagarela, como uma TV de Rua, exibe seus vídeos em praças da comunidade, na maioria das vezes no Largo do Boiadeiro, famoso comércio da Rocinha. É considerado um ponto estratégico, uma vez que a maioria dos moradores passa por ele ao entrar ou sair da comunidade. Essas exibições são sempre feitas à noite, para ser possível a visualização do material transmitido através do telão. São veiculados filmes nacionais que tenham, de preferência, alguma relação com a comunidade da Rocinha, proporcionando o exercício da consciência crítica. O grupo mantém ainda o site http://www.tvtagarela.org.br, voltado para a comunidade e a TV, onde são disponibilizadas todas as suas produções.
É esse o verdadeiro papel da comunicação comunitária: dar visibilidade aos moradores, ou seja, torná-los agentes do seu próprio “eu”. Ela traz cultura, conhecimento e discute possíveis soluções para os problemas locais, esquecidos pela mídia tradicional. No caso da TV Tagarela, a transmissão não é feita por ondas que se propagam pelo ar e nem a cabo; é uma forma de comunicação híbrida, que mistura a imagem eletrônica com a presença física, como ocorre no teatro ou na comunicação oral. Essa mistura de uma forma moderna – a TV – com outra tão antiga quanto o teatro, mostra bem o papel de resistência cultural desempenhado pela comunicação comunitária em busca de uma real democratização.
4 comentários:
Bem interessante. Sigam firmes. Vcs vão bombar se o pique continuar assim.
Visitei a Rocinha ha trinta anos no desempenho da minha função de jornalista. Estive acompanhado por um padre jesuita que vivía là. Nesta altura “O Tagarela“ não era TV senão um jornal. Fiquei muito impressionado pela vida associativa que constatei no lugar e escreví uma reportagem sobre o assunto que teve larga difusão na Europa e nomeadamente na França.
Ainda que aposentado agora, continuo interessado no assunto e agradeceria toda informação. saudações a todos.
Sou estudante de Jornalismo de São Paulo e estou fazendo um trabalho para a faculdade sobre TV Comunitária. Gostaria de saber se teria como fazer cinco perguntinhas pra vocês, por e-mail mesmo, ou telefone, o que vocês preferirem. O único porém, é que tenho um pouco de pressa e se pudesse, marcaríamos a entrevista ainda para hoje ou amanhã. Muito obrigada pela ajuda e atenção! Parabéns pelo trabalho!!
Meu e-mail é licalind@globo.com. Aguardo o contato!
Aline Lind
oi galera, sou de um coletivo de belém e também temos um trabalho com midia independente e gostariamos de manter contato.
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