José Maria Rabelo
Em 17 de fevereiro de 1952, na então pacata Belo Horizonte, surgia um jornal tablóide que iria balançar as estruturas conservadoras e a moral da tradicional família mineira. Era o Binômio, dirigido pelo jornalista José Maria Rabelo e seu colega Euro Arantes. A linha editorial do semanário combinava o humor com denúncias políticas, grandes reportagens, charges, crônicas e farto material fotográfico. Tudo começou quando eles decidiram escolher o então governador do estado Juscelino Kubitschek como alvo. JK tinha adotado como lema de governo a frase "Binômio Energia e Transporte", que era exaustivamente divulgada nos meios de comunicação. Para contrapor o slogan eles então lançaram o jornal intitulado "Binômio Sombra e Água Fresca", que com o tempo ficaria apenas Binômio. O objetivo era mostrar o lado promíscuo das relações de poder no estado. No primeiro número estava claro ao que vinha. No editorial "Duzentas e sessenta e nove palavras ao leitor", ele se intitulava quase independente. "Temos 99% de independência e um por cento de ligações suspeitas. O oposto de nossos ilustres confrades, que têm um por cento de independência e noventa e nove por cento de ligações mais suspeitas que o mordomo de filme policial americano".
O jornal virou fenômeno de venda (chegou a vender 60 mil exemplares) e incorporava jovens jornalistas e chargistas, entre eles Fernando Gabeira, Roberto Drummond, Guy de Almeida, Oseas de Carvalho, Ponce de Leon, Ziraldo e Borjalo, todos em início de carreira. Célebre foi a manchete anunciando uma visita de JK a Araxá. Como tinha ido acompanhado do empresário Joaquim Rolla, Binômio estampou a seguinte pérola: "Juscelino foi a Araxá e levou Rolla".
Em pouco tempo o jornal já era motivo de preocupação para diversos interesses, governamentais e privados, entre eles o banqueiro Antonio Luciano, dono de metade de Belo Horizonte, que o jornal massacrou ao longo de sua existência. O "respeitado" tubarão era deflorador de meninas e montara um aparato para saciar seu apetite sexual. Para isso tinha um ajudante encarregado de recrutar pela periferia da cidade donzelas incautas dispostas a atender seu desejo, em troca de dinheiro e outros favores. O que era apenas fama ganhava as páginas do Binômio, que não perdoava. Luciano chegou a mandar capangas atrás da equipe do jornal. Há dados comprovados que apontam que ele chegou a ter mais de cem filhos, alguns até com filhas.
Outro setor que tomou horror ao Binômio foi o militar. Principalmente a partir dos incidentes com o general Punaro Bley, então comandante do exército em Minas. O referido oficial não gostou de uma reportagem publicada no jornal que revelava um lado obscuro de sua história, quando interventor no Espírito Santo durante o Estado Novo. Ele tinha construído campos de concentração para recolher líderes comunistas e governou o estado com braço de ferro. A matéria intitulada "Democrata hoje, fascista ontem", irritou o general que fardado foi até a redação de Binômio para agredir José Maria. Ao se defender, desferiu alguns socos que deixaram Bley sangrando. Como resposta, num gesto de grande valentia, o militar enviou mais de duzentos soldados empastelar a redação do jornal, não poupando sequer as instalações sanitárias e os quadros de artistas mineiros que decoravam o ambiente. A partir dali, até 1964, seria apenas uma questão de tempo. Com o golpe, Binômio, depois de 12 anos de uma rica e fascinante experiência, foi fechado e seu diretor obrigado a correr o mundo num exílio que durou 16 anos.
Fonte: Bafafá online, pesquisado por Fernanda Pontes
Mais informações: Revista Caros Amigos
9 comentários:
ô de olho, gente. Vcs já viram se aqueles livrinhos da Prefeitura têm algo sobre o tema? Acho que eles fizeram. Vou procurar na minha coleção incompleta e volto a falar com vcs.
pc
Tô. Comi o t na mensagem anterior.
2567- BINÔMIO-EDIÇÃO HISTÓRICA-JORNAL DE OPOSIÇÃO ESCRITO EM BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS/BRASIL, EM 1951.(258 PÁGINAS)
Acróstico-histórico Nº 2567
Por Sílvia Araújo Motta
J-Jovens estudantes deram ao “BINÔMIO”
O-O papel de um dos PAIS da Imprensa,
R-Reconhecida “alternativa no Brasil”
N-Na verdade, pela aceitação imensa.
A-“Avô da Imprensa Nanica no País”
L-Levantando críticas, sobre a “liberdade...”
D-Desde 1951, criado por José Maria Rabêlo,
E-E Euro Luis Arantes, ambos Jornalistas.
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O-O “Binômio sombra e água fresca”
P-Proclamava ser “órgão independente”...
O-O Almanaque do Binômio, pode
S-Ser considerado, brinde aos leitores,
I-Informativo de dezembro de 1952,
Ç-Com publicação precursora;
Ã-A primeira edição, logo esgotou...
O-Os exemplares, em poucas horas.
-
B-Binômio em 2009, após 50 anos,
I-Interditado pela Ditadira Militar,
N-Na 2ª edição Histórica, resgatou
Ô-O registro imortal do “Jornal que virou
M-Minas de Cabeça para baixo...”
I-Impressão independente soube realizar
O-O Jornalismo crítico país brasileiro.
-
E-Em 7 /jan/1963 teve a primeira matéria
D-De Décio Serrano(Guy de Almeida.)
I-Informava sobre a situação nacional
Ç-Contra o governo de João Goulart...
Ã-A Redação Mineira recebia do Exterior
O-Os comentários da política mundial.
-
H-Heróica trajetória do Jornal mineiro
I-Infernizou a VIDA dos Conservadores...
S-Sua irreverência, luta e criatividade,
T-Tomaram fama, entre os LEITORES,
Ó-Os que liam e viam a verdade nua/ crua,
R-Razões de sobra, traziam publicidade real,
I-Interpretavam os fatos políticos,verídicos,
C-Com ousadia, busca de liberdade ,humor.
A-Agora, tem a imortalidade documental.
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Belo Horizonte, Minas Gerais,
SETEMBRO DE 2009,Auditório da
Academia Mineira de Letras,Palestra
proferida por JOSÉ MARIA RABÊLO,
Fundador do BINÕMIO.
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http://recantodasletras.uol.com.br/acrosticos/1860781
Eu tenho alguns exemplares do jornal binomio
Há como ter acesso aos nomes da equipe jornalistica do Binomio (reporteres, etc)? Quem foi preso?
Cordialmente,
Adla Teixeira
Sou pesquisador capixaba e a história do General Bley está mal contada. Ele foi (corajosamente) sozinho no jornal falar com os jornalistas sobre a matéria que o chama de fascista. Ao chegar lá, aí sim, foi covardemente espancadao pelos jornalistas taxados como heróis aqui. Foi levado inconsciente ao hospital e cerca de 30 militares (e não 200), de fato, foram ao local - sem o conhecimento do General Bley - levar presos as pessoas que o atacaram, resultando no quebra-quebra. Mais respeito com a história, por favor. Nem vou entrar no mérito da história de "campo de concentração", que nunca li nada a respeito na história brasileira.
Além do mais o Sr José Maria Rabelo fazia imprensa marrom achacando empresários e políticos para não fazer "reportagens" sobre suas vidas ou empresas. Meu cunnhado era militar na época e confirma não foram mais que 30 soldados do exército(ele era um deles). Realmente o general foi primeiramente agredido por 4 ou 5 funcionários do jornal. O Sr José Maria não era mesmo nehum santo.
Olá! Sou mestranda em História da Educação e preciso de alguns dados que, acredito, encontrarei no jornal Binômio. Onde, em Belo Horizonte, posso pesquisar exemplares do jornal Binômio? Muito obrigada!
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