terça-feira, 17 de abril de 2007

Jornal Binômio, o incendiário de Minas faz 50 anos

José Maria Rabelo
Em 17 de fevereiro de 1952, na então pacata Belo Horizonte, surgia um jornal tablóide que iria balançar as estruturas conservadoras e a moral da tradicional família mineira. Era o Binômio, dirigido pelo jornalista José Maria Rabelo e seu colega Euro Arantes. A linha editorial do semanário combinava o humor com denúncias políticas, grandes reportagens, charges, crônicas e farto material fotográfico. Tudo começou quando eles decidiram escolher o então governador do estado Juscelino Kubitschek como alvo. JK tinha adotado como lema de governo a frase "Binômio Energia e Transporte", que era exaustivamente divulgada nos meios de comunicação. Para contrapor o slogan eles então lançaram o jornal intitulado "Binômio Sombra e Água Fresca", que com o tempo ficaria apenas Binômio. O objetivo era mostrar o lado promíscuo das relações de poder no estado. No primeiro número estava claro ao que vinha. No editorial "Duzentas e sessenta e nove palavras ao leitor", ele se intitulava quase independente. "Temos 99% de independência e um por cento de ligações suspeitas. O oposto de nossos ilustres confrades, que têm um por cento de independência e noventa e nove por cento de ligações mais suspeitas que o mordomo de filme policial americano".

O jornal virou fenômeno de venda (chegou a vender 60 mil exemplares) e incorporava jovens jornalistas e chargistas, entre eles Fernando Gabeira, Roberto Drummond, Guy de Almeida, Oseas de Carvalho, Ponce de Leon, Ziraldo e Borjalo, todos em início de carreira. Célebre foi a manchete anunciando uma visita de JK a Araxá. Como tinha ido acompanhado do empresário Joaquim Rolla, Binômio estampou a seguinte pérola: "Juscelino foi a Araxá e levou Rolla".

Em pouco tempo o jornal já era motivo de preocupação para diversos interesses, governamentais e privados, entre eles o banqueiro Antonio Luciano, dono de metade de Belo Horizonte, que o jornal massacrou ao longo de sua existência. O "respeitado" tubarão era deflorador de meninas e montara um aparato para saciar seu apetite sexual. Para isso tinha um ajudante encarregado de recrutar pela periferia da cidade donzelas incautas dispostas a atender seu desejo, em troca de dinheiro e outros favores. O que era apenas fama ganhava as páginas do Binômio, que não perdoava. Luciano chegou a mandar capangas atrás da equipe do jornal. Há dados comprovados que apontam que ele chegou a ter mais de cem filhos, alguns até com filhas.

Outro setor que tomou horror ao Binômio foi o militar. Principalmente a partir dos incidentes com o general Punaro Bley, então comandante do exército em Minas. O referido oficial não gostou de uma reportagem publicada no jornal que revelava um lado obscuro de sua história, quando interventor no Espírito Santo durante o Estado Novo. Ele tinha construído campos de concentração para recolher líderes comunistas e governou o estado com braço de ferro. A matéria intitulada "Democrata hoje, fascista ontem", irritou o general que fardado foi até a redação de Binômio para agredir José Maria. Ao se defender, desferiu alguns socos que deixaram Bley sangrando. Como resposta, num gesto de grande valentia, o militar enviou mais de duzentos soldados empastelar a redação do jornal, não poupando sequer as instalações sanitárias e os quadros de artistas mineiros que decoravam o ambiente. A partir dali, até 1964, seria apenas uma questão de tempo. Com o golpe, Binômio, depois de 12 anos de uma rica e fascinante experiência, foi fechado e seu diretor obrigado a correr o mundo num exílio que durou 16 anos.

Fonte: Bafafá online, pesquisado por Fernanda Pontes


Mais informações: Revista Caros Amigos

9 comentários:

PC Guimarães disse...

ô de olho, gente. Vcs já viram se aqueles livrinhos da Prefeitura têm algo sobre o tema? Acho que eles fizeram. Vou procurar na minha coleção incompleta e volto a falar com vcs.
pc

PC Guimarães disse...

Tô. Comi o t na mensagem anterior.

Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

2567- BINÔMIO-EDIÇÃO HISTÓRICA-JORNAL DE OPOSIÇÃO ESCRITO EM BELO HORIZONTE/MINAS GERAIS/BRASIL, EM 1951.(258 PÁGINAS)

Acróstico-histórico Nº 2567
Por Sílvia Araújo Motta

J-Jovens estudantes deram ao “BINÔMIO”
O-O papel de um dos PAIS da Imprensa,
R-Reconhecida “alternativa no Brasil”
N-Na verdade, pela aceitação imensa.
A-“Avô da Imprensa Nanica no País”
L-Levantando críticas, sobre a “liberdade...”

D-Desde 1951, criado por José Maria Rabêlo,
E-E Euro Luis Arantes, ambos Jornalistas.
-
O-O “Binômio sombra e água fresca”
P-Proclamava ser “órgão independente”...
O-O Almanaque do Binômio, pode
S-Ser considerado, brinde aos leitores,
I-Informativo de dezembro de 1952,
Ç-Com publicação precursora;
Ã-A primeira edição, logo esgotou...
O-Os exemplares, em poucas horas.
-
B-Binômio em 2009, após 50 anos,
I-Interditado pela Ditadira Militar,
N-Na 2ª edição Histórica, resgatou
Ô-O registro imortal do “Jornal que virou
M-Minas de Cabeça para baixo...”
I-Impressão independente soube realizar
O-O Jornalismo crítico país brasileiro.
-
E-Em 7 /jan/1963 teve a primeira matéria
D-De Décio Serrano(Guy de Almeida.)
I-Informava sobre a situação nacional
Ç-Contra o governo de João Goulart...
Ã-A Redação Mineira recebia do Exterior
O-Os comentários da política mundial.
-
H-Heróica trajetória do Jornal mineiro
I-Infernizou a VIDA dos Conservadores...
S-Sua irreverência, luta e criatividade,
T-Tomaram fama, entre os LEITORES,
Ó-Os que liam e viam a verdade nua/ crua,
R-Razões de sobra, traziam publicidade real,
I-Interpretavam os fatos políticos,verídicos,
C-Com ousadia, busca de liberdade ,humor.
A-Agora, tem a imortalidade documental.
-
Belo Horizonte, Minas Gerais,
SETEMBRO DE 2009,Auditório da
Academia Mineira de Letras,Palestra
proferida por JOSÉ MARIA RABÊLO,
Fundador do BINÕMIO.

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Direito e Poesia-Autora Silvia Araújo Motta-BH-MG-Brasil disse...

http://recantodasletras.uol.com.br/acrosticos/1860781

Unknown disse...

Eu tenho alguns exemplares do jornal binomio

Unknown disse...

Há como ter acesso aos nomes da equipe jornalistica do Binomio (reporteres, etc)? Quem foi preso?
Cordialmente,

Adla Teixeira

Anônimo disse...

Sou pesquisador capixaba e a história do General Bley está mal contada. Ele foi (corajosamente) sozinho no jornal falar com os jornalistas sobre a matéria que o chama de fascista. Ao chegar lá, aí sim, foi covardemente espancadao pelos jornalistas taxados como heróis aqui. Foi levado inconsciente ao hospital e cerca de 30 militares (e não 200), de fato, foram ao local - sem o conhecimento do General Bley - levar presos as pessoas que o atacaram, resultando no quebra-quebra. Mais respeito com a história, por favor. Nem vou entrar no mérito da história de "campo de concentração", que nunca li nada a respeito na história brasileira.

Anônimo disse...

Além do mais o Sr José Maria Rabelo fazia imprensa marrom achacando empresários e políticos para não fazer "reportagens" sobre suas vidas ou empresas. Meu cunnhado era militar na época e confirma não foram mais que 30 soldados do exército(ele era um deles). Realmente o general foi primeiramente agredido por 4 ou 5 funcionários do jornal. O Sr José Maria não era mesmo nehum santo.

Daiane disse...

Olá! Sou mestranda em História da Educação e preciso de alguns dados que, acredito, encontrarei no jornal Binômio. Onde, em Belo Horizonte, posso pesquisar exemplares do jornal Binômio? Muito obrigada!