O Observatório da Imprensa do dia 22 de agosto de 2006 falou sobre os jornais alternativos que, durante a ditadura, combateram a censura com humor e criatividade. O jornal O Sol, que hoje tem sua história contada nas telas de cinema, é um exemplo desses meios de comunicação que, com inteligência e coragem, marcaram uma geração.
Alberto Dines, em seu editorial, disse: “Quando nasce um jornal, alguma coisa acontece. A própria invenção da imprensa causou uma profunda alteração na sociedade européia. Nosso primeiro periódico sem censura, o "Correio Braziliense", abriu caminho para a independência. A fundação do "Estado de S. Paulo" antecipou a abolição. Quando nasce um jornal, alguma coisa sempre acontece. Está nas telas dos cinemas um filme que é também um pedaço da história moderna do Brasil. O protagonista deste filme é um jornal, O Sol. O primeiro jornal alternativo moderno. Lançado em setembro de 1967 para enfrentar a ditadura e o conformismo da grande imprensa, O Sol durou poucos meses, foi até janeiro do ano seguinte, mas algo aconteceu: criou-se o paradigma da renovação e da imprensa de resistência, mais tarde batizada como imprensa nanica ou udigrude, de underground, ou ainda de imprensa alternativa. Hoje, nascem jornais mas nada acontece. São novos produtos dos mesmos grupos empresariais, raramente são projetos de mudança. Inspirado na experiência do Sol, o Observatório da Imprensa discute hoje a falta que faz O Sol. Hoje estamos à sombra da Internet. Tudo o que é novo começa na Internet. Será que é a mesma coisa?
Participaram do programa no Rio, o jornalista e escritor José Maria Rabêlo e o colunista de tecnologia do Globo e do Globo Online, Carlos Alberto Teixeira; em Brasília, o jornalista Reynaldo Jardim e, em São Paulo, o diretor executivo da Revista Reportagem, Raimundo Pereira.
José Maria Rabêlo contou sua experiência como criador do extinto jornal Binômio: “Esses acontecimentos da história surgem sem que a gente tenha pretensão nenhuma. Éramos dois jornalistas muito jovens. O que nos desagradava muito era o clima de unanimidade da imprensa mineira, totalmente controlada pelo Palácio da Liberdade. Então, nós resolvemos lançar um jornal que dissesse algo diferente, mas não tínhamos recursos para fazer um jornal diário. Fizemos humor e a concisão do humor ajuda muito. Uma piada demole uma reputação, mais do que um artigo! O Juscelino lançou o programa Binômio Energia e Transporte e só se falava nisso em Minas Gerais. Então, contra o binômio da mentira e propaganda, Energia e Transporte, o binômio da verdade, sombra e água fresca. Isso teve uma repercussão enorme, amor à primeira vista com o estado, com a cidade. Nós, que não imaginávamos que estávamos fazendo algo duradouro, percebemos que tínhamos na mão um instrumento político muito importante, que durou doze anos até ser fechado em 64 pela ditadura militar.”
Reynaldo Jardim falou sobre o jornal O Sol, o qual ajudou a construir: “O Sol nasceu da constatação de que as escolas jornalísticas não ensinavam jornalismo, a fazer jornal. Então, eu queria fazer uma faculdade de jornalismo que, na prática, editasse um jornal diário, profissional. Por motivos empresariais, a faculdade não deu certo, mas saiu o jornal. Ele era formado por jovens universitários e os editores eram profissionais já consagrados. A Tetê Moraes resolveu transformar essa experiência do Sol e a vida daquela época em um documentário que, realmente, ficou muito emocionante e fantástico. Acho que deveria ser visto por todos os universitários e jornalistas, porque mostra um tipo de jornal e de jornalista totalmente diferente do jornalismo de hoje.”
Raimundo Pereira argumentou a respeito da Internet como novo meio de comunicação: “A grande possibilidade que a Internet cria é de cada leitor ser também um agente. Então, por essa razão, que nós começamos a trabalhar com a Internet há muitos anos, porque é um instrumento novo. Ela também apresenta problemas, que são comuns, assim como a imprensa escrita. A banca de jornais é um caos e a Internet não é diferente. É um caos de informação e que desperta algumas ilusões por parte de alguns que acreditam que qualquer um pode fazer um trabalho de informação relevante. Isso não é verdade, porque para cobrir o conjunto de acontecimentos, para dar uma visão mais razoável das coisas, precisa de organização, recursos. Então, se tem os mesmos problemas que existem para fazer um jornal diário.”
Carlos Alberto Teixeira falou das possíveis mudanças na imprensa do futuro: “Eu acho que a tendência é que jornais com sites na Internet não precisem ter essa perna fora do mundo do computador. Existem algumas profecias de qual será o futuro da imprensa. Basicamente, ela vai passar a funcionar como uma mídia viral, no sentido do contágio. Um blog pode sobressair em relação a outro, em função das indicações, dos links. Um blog muito linkado acaba por ter uma confiabilidade maior. A partir do momento que você tem o Google permitindo pesquisa e busca no grande acervo de informações espalhado no site e também, redes sociais como o Orkut, onde as pessoas se relacionam, você vai pode ter, no futuro, um jornal, um texto jornalístico para cada leitor, associando isso ao fato de que computadores vão estar escrevendo notícias, mesmo achatadas e sem adjetivos. Nessa profecia, a tendência é que jornais de papel deixem de existir.
Fonte: site Observatório da Imprensa
Um comentário:
Alô alô pessoal. Alguém pode ligar hoje, sexta, pro meu celular? O mais breve possível.
Tô atento. E gostando.
PC (sexta, 16h13)
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